Newsletter – Silêncio no Estúdio Vol. 96

24 de Maio  de 2021


Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. A newsletter desta semana é especial apenas com clássicos que se destacam na discoteca dos nossos colaboradores. Muita coisa velha, outras nem tanto, mas sempre com algo em comum: aquele “gostinho” de clássico. Discos que não saem da nossa cabeça e dos nossos corações, independente da época em que foram lançados!


IT’S A CLASSIC

Por Bruno Leo Ribeiro

PAIS DE PET

No mundo da música, ninguém tem que ter vergonha de dizer que nunca ouviu tal disco, ou que não conhece tal artista. Nunca entendi essa cobrança. Ninguém é obrigado a gostar de nada. Não precisamos fingir que conhecemos alguém que não conhecemos pra gente parecer mais inteligente. Nunca acreditei nisso.

Eu fui escutar o Pet Sounds dos Beach Boys pela primeira vez quando eu já tinha mais de 20 anos. Antes disso, minha lista de melhores discos de todos os tempos mudava a cada ano e a cada lançamento e a cada descoberta do passado. Quando ouvi o Pet Sounds, o Top 1 foi decidido pra sempre.

Hoje em dia, temos acesso e o play bem ali no nosso bolso. E foi quando a internet já estava popular que fui ouvir o Pet Sounds pela primeira vez. Eu gostaria de ter aquela sensação de novo. O sentimento de ouvir esse disco pela primeira vez é inesquecível. Do disco, eu só estava familiarizado com a música de abertura, “Wouldn’t It Be Nice”. Dali pra frente foram apenas surpresas maravilhosas.

O disco segue com uma música melhor que a outra até chegar em “God Only Knows”. Nessa, eu  precisei parar e ouvir de novo… e de novo… e de novo. E faço isso até hoje.

No dia 16 de Maio, essa obra de arte completou 55 anos e eu precisava falar sobre. Mas não de uma maneira convencional tentando convencer as pessoas de que esse é o melhor disco de todos os tempos e todo mundo precisa concordar. Não… apenas não. Ele é o melhor disco de todos os tempos pra mim. Apenas. Talvez pra muitas outras pessoas também, mas quem vai decidir isso é você. 

Seja você conhecendo desde seu lançamento há 55 anos, ou se você vai dar play pela primeira vez hoje. O importante é se deixar se emocionar. Eu só acho que você merece se emocionar. Por isso, essa é a minha dica de hoje.

Se emocione aqui com o Pet Sounds


Por Vinícius Cabral

NÃO É PRA HYPAR. É PARA NÃO ESQUECER. 

Como todos já devem saber, o Brasil perdeu mais um mestre: Genival Cassiano dos Santos, ou simplesmente, Cassiano. Muito foi dito diante da perda, principalmente as lamentações de sempre, do tipo: “poxa, tão desconhecido!”. Uma reflexão fundamental (infelizmente uma constante nesse país). Mas muita coisa já foi resumida neste belo artigo: “Não dávamos a mínima para Cassiano”, que além de fazer um excelente mea culpa, ainda nos traz um raio x completíssimo da carreira desse grande compositor, instrumentista e intérprete brasileiro. 

Seria possível falar apenas de um de seus álbuns em específico, como o que está destacado aí na imagem, o Cuban Soul 18 Kilates, de 1976 – um disco seminal, talvez o mais maduro do artista, com clássicos inesquecíveis como Onda, Coleção, A Lua e Eu. É um disco perfeito, que resume a amplitude musical desse artista inspirado: rock, soul, funk, tudo envolvido em uma identidade nacional. Sim, nacional. O paraibano Cassiano ganhou o Rio de Janeiro, para emplacar sucessos na boca, por exemplo, de uma baiana (Ivete Sangalo). Cassiano é uma obra nossa, e tem em sua obra o Brasil todinho. 

Obra, claro, pouco explorada. Eu mesmo, em post do dia 10/05/2021, errei ao citar apenas 3 álbuns de Cassiano, que tem 4: Imagem e Som (1971), Apresentamos nosso Cassiano (1973), Cuban Soul 18 Kilates (1976), e o tardio, mas antológico (com participações especiais), Cedo ou Tarde (1992). Este texto não vem destacar um álbum em específico, porque pelo Cassiano vale queimar aquele gás extra em uma imersão mais dedicada. Do pioneirismo do brazilian soul (mais destacado em seu primeiro disco Imagem e Som), às memórias magistralmente registradas em seu último trabalho (Cedo ou Tarde), a trajetória de Cassiano é simbólica. 

Simbólica por representar a triste e convencionada história dos artistas basilares deste país: pessoas que criam e fomentam toda uma cena, inovam, inventam, emplacam hits, imprimem suas identidades na cultura pop do país e … morrem relativamente desconhecidas. Diante dos resgates e retrospectivas, um amigo muito sensato me alertou: “Não vamos hypar não! Deixa o cara ir em paz”. Eu respondi com o que eu penso, do fundo do meu âmago: ninguém deveria hypar. Não é, nunca, uma questão de hypar. É uma questão de memória, de história, de identidade cultural. Cassiano é mais uma parte da nossa cultura que se vai, em um momento em que monstros horrorosos tentam apagá-la na base da porrada, do esquecimento e da repressão. 

Não esqueçamos Cassiano

Ouça aqui o Cubal Soul: 18 Kilates (como ponto de partida, talvez)


Por Márcio Viana

50 ANOS DE AMOR E ÓDIO

Pode ser que houvesse uma utilidade mais prática se minha memória tivesse sido usada para decorar equações matemáticas ou fatos históricos, ou até mesmo regras gramaticais, mas o que tenho mesmo registrado nela são algumas frases de entrevistas com artistas, especialmente as que eram publicadas nos anos 90 e 2000 na revista Bizz, que li e devorei em sua maioria.

Uma das entrevistas que me lembro bem foi com o músico e produtor Dave Stewart, a metade instrumentista do Eurythmics, ao lado de Annie Lennox. Nela, Stewart disse uma frase que agregou muito à minha experiência musical. Dizia ele: “Eu consigo cantar meio como Lou Reed e Leonard Cohen”, com ênfase para o “consigo”. Isso despertou em mim um grande interesse por conhecer a obra dos dois e descobrir o que haveria neles para serem usados como exemplos de cantores passíveis de serem uma meta baixa a ser alcançada.

Bem, nisso eu cheguei na obra de Lou Reed, e você pode ter uma ideia do que isso representou ouvindo nosso episódio #58 – Raio X – A Transformação de Lou Reed. Mas quero falar nesta newsletter do outro citado por Stewart: o incrível Leonard Cohen.

Songs of Love and Hate é o terceiro álbum do cantor, lançado em março de 1971. São apenas oito faixas, mas são faixas de duração mais longa. Neste disco, além da duração, nota-se uma densidade discursiva maior do que a de seus antecessores, todos gigantes e todos frutos da obra de um – antes de cantor – grande escritor.

Mas o fato é que Cohen era também um grande cantor, ainda que não fosse exatamente virtuoso. Sua voz de barítono entregava a dramaticidade que suas letras pediam, e tudo dava certo no final.

Temos então, desde Avalanche até Joan of Arc, o amor e o ódio dialogando ao longo das canções e lembrando o quanto pode ser belo ser triste – embora não seja exatamente agradável. O que dizer de um álbum em que na primeira faixa se ouve a frase “as migalhas de amor que me ofereces / são as migalhas que deixei para trás”?

Produzido por Bob Johnston, Songs of Love and Hate é o disco que eu indicaria se alguém me perguntasse o que é arte.

Ouça Songs of Love and Hate aqui


Por Brunno Lopez

AS RUAS LOTADAS DO DAVE MATTHEWS BAND

Deve ser muito triste voltar no tempo e não encontrar essa preciosidade entre os melhores álbuns de 1998. A crítica precisava aplaudir escandalosamente um material com este nível tão absurdo de musicalidade.

Que outra banda ousadia trazer um disco totalmente fora dos padrões de sua discografia? 

São muitas as razões para se adorar o Before These Crowded Streets, mas talvez o simples fato da banda lançar depois dele seis álbuns consecutivos que entraram na primeira posição da Billboard 200 seja suficiente pra provar este ponto.

Permita-se mergulhar na atmosfera dessa criação icônica do DMB e prepare-se para uma audição incrivelmente transformadora.

Um aviso: “Stay” vai entrar pra sua listas de músicas perfeitas da vida.

Ouça aqui


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana