Newsletter – Silêncio no Estúdio Vol. 104

19 de junho  de 2021


Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. A newsletter desta semana é especial apenas com clássicos que se destacam na discoteca dos nossos colaboradores. Muita coisa velha, outras nem tanto, mas sempre com algo em comum: aquele “gostinho” de clássico. Discos que não saem da nossa cabeça e dos nossos corações, independente da época em que foram lançados!


IT’S A CLASSIC

Por Bruno Leo Ribeiro

HOMEM DESPEDAÇADO

1971, realmente foi um dos anos mais incríveis da história da música. Em 202,1 estamos comemorando 50 anos de inúmeros clássicos, o Blue da Joni Mitchell, Hunky Dory do Bowie, o Master of Reality do Black Sabbath e muitos outros, mas um em particular eu simplesmente sou fascinado… o Pieces of a Man do Gil-Scott Heron. Esse é simplesmente um dos discos mais poderosos que já ouvi na vida.

O disco já começa com o grande hino     “The Revolution Will Not Be Televised”. Essa música por si só já merecia uma análise minuciosa de todos os seus detalhes. Ela que surgiu como um poema recitado, virou música para entrar nesse disco maravilhoso.

Quando eu escuto músicas como “Save the Children”, “Home Is Where the Hatred Is”, “Pieces of a Man” e “The Prisoner”, é quase inacreditável que esse disco tenha 50 anos.

Todas essas músicas poderiam ser lançadas em 2021 e tudo faria muito sentido. Nessas horas que a gente vê que as coisas melhoraram, mas nem tanto assim. Falta um bocado.

O “Pieces of a Man” é um disco clássico de Soul, Jazz, Funk e até de Proto-Hip Hop/Rap. Sem ele, a música negra dos Estados Unidos não seria a mesma. O Gil-Scott Heron é quase um padrinho do Rap, com um trabalho vindo das raízes do Blues e da Literatura Afro-Americana, que ajudou a inspirar a criação do Movimento Black Power. Ele foi fundamental em vocalizar seus pensamentos na luta pela justiça racial, que mesmo que ainda tenha muito o que melhorar, sem o Gil-Scott Heron, a mudança seria ainda mais lenta. Ouçam o Pieces of a Man.

Ouça aqui o Pieces of a Man


Por Vinícius Cabral

A OBRA-SÍNTESE DE UMA DAS MAIORES BANDAS DE TODOS OS TEMPOS

Eu demorei 3 anos para começar a falar seriamente de Stereolab nesse podcast. Agora a porteira abriu. 

Semana passada, em meio a um revigorante CD revival que me acometeu, achei em uma loja a versão original, lacrada, deste Emperor Tomato Ketchup, de 1996. Foi o suficiente para me levar de volta ao universo particular da banda franco-britânica. Esse disco não foi o primeiro que ouvi, nem sequer é considerado o melhor da banda no consenso geral (título que ficaria com Dots and Loops, obra-prima do ano seguinte, 1997). Mas ele tem características que o destacam, dentro da longa, confusa e irregular discografia da banda: é a partir dele, por exemplo, que fica mais evidente a descrição que muita gente usa para o som inovador do grupo – uma mistura nunca antes vista entre indie pop, krautrock e 60s pop, largamente marcada por sintetizadores analógicos. 

É o que salta aos ouvidos logo na primeira faixa, a processual Metronomic Underground. Um quase-motorik beat, um loop de baixo lisérgico, os sintetizadores … tudo ali aponta para a descrição destacada acima. Isso fica mais claro ainda em outras canções, como na faixa título – com um beat motorik ainda mais clássico – ,  ou em Les Yper-Sound – a mistura mais  perfeita que poderia ser imaginada entre Françoise Hardy e CAN

Emperor Tomato Ketchup ainda traz elementos que marcam toda a carreira da banda, e por isso geralmente é citado como a obra central deles: a referência à clássicos underground – o título do disco é retirado de um curta-metragem experimental japonês de 1971, de Shūji Terayama, de mesmo nome – ; os arranjos luxuosos com synths analógicos e cordas; o jogo vocal entre Laetitia Sadier e Mary Hansen; as letras comunistas de Tim Gane e Laetitia, escritas em inglês e francês, alternadamente; e por aí vai. O disco também faz uma referência, ainda que de passagem, às origens shoegaze do grupo, com a fantástica Noise of Carpet. E, claro, como não poderia deixar de ser, traz um clássico absoluto; uma das canções mais magistrais e eternas que já ouvi, que me arrepia em absolutamente qualquer audição: Cybele’s Reverie

Pode não ser, como já disse, o melhor ou mais consistente disco da banda. Mas trata-se, certamente, de um dos discos mais importantes da história do rock alternativo e que, provavelmente em função disso, não envelheceu nem um minuto em 25 anos. 

Ouça Emperor Tomato Ketchup aqui


Por Márcio Viana

UM QUINTO BEATLE DA AMÉRICA

Se há um artista que uniu os Beatles, este artista foi Harry Nilsson (inclusive literalmente: uma jam session em 1974, em uma sessão com Nilsson e presente em gravações não oficiais por aí reuniu John Lennon e Paul McCartney pela primeira e última vez em um estúdio, e os outros beatles também passaram pelo local em dias alternados).

Mas falo aqui da admiração que tanto John quanto Paul sentiam por Nilsson, a ponto de o indicarem como o maior artista norte-americano (Lennon chegou a usar a frase “Nilsson para presidente dos EUA” em um de seus arroubos de empolgação). 

Dono de uma carreira iniciada como compositor, em obras de nomes como Little Richard e Phil Spector, Nilsson lançou seu primeiro disco-solo, Spotlight on Nilsson, em 1966. Em 1974 Lennon, a esta altura um amigo inseparável de Nilsson, produziu o discutível Pussy Cats. Ringo Starr foi outro beatle que se tornou grande amigo do cantor.

O grande sucesso comercial de Nilsson foi a gravação de Everybody’s Talkin, de Fred Neil, presente na trilha de Midnight Cowboy.

Mas nesta newsletter vou dedicar algumas linhas para falar de Nilsson Schmilsson, de 1971, talvez o disco mais coeso do artista, que em 10 faixas mostra as razões dele ter sido tão influente, não só para os Beatles, mas para muitos outros artistas (logo de cara, dá pra sacar a influência conceitual no disco Schmilco, do Wilco).

Pra começar, nesse disco Nilsson é mais McCartney do que Lennon, e isso talvez até explique um pouco a proximidade dele com John, talvez para se manter na zona de conforto. A faixa que mais lembra o estilo de Paul é Coconut, com muitos dos cacoetes vocais que veríamos na obra do britânico ao longo de sua carreira solo.

Digna de menção é a interpretação de Without You, do Badfinger, que rendeu ao cantor a premiação de Melhor Performance Vocal Pop Masculina no Grammy. O curioso aqui é que a aclamadíssima versão de Mariah Carey parece ser mais inspirada na interpretação de Nilsson do que na original de 1970.

Ainda no universo beatle, vale o destaque à participação de Klaus Voormann, baixista do Manfred Mann e figura muito presente na história da banda, seja pela amizade iniciada no início da carreira, quando o grupo excursionou por Hamburgo, ou pela colagem psicodélica em preto e branco que Voormann fez para a capa do álbum Revolver.

Depois de Nilsson Schmilsson, o cantor tentou alguns spin-offs do álbum, como Son of Schmilsson e A Little Touch of Schmilsson in the Night, sem repetir o sucesso de público e crítica.

Ouça Nilsson Schmilsson aqui


Por Brunno Lopez

AS COORDENADAS DE UM MARCO

A grandiosidade das recentes composições da época em que esse material foi lançado já seria suficiente para criar um álbum ao vivo inesquecível. Mas o Rosa de Saron conseguiu ir além e promoveu um acontecimento importante durante esse show clássico em Belo Horizonte: a junção de músicos de doutrinas católicas e evangélicas para cantarem juntos.

Muitas pessoas do segmento aguardavam o momento de ver o Rosa e o Oficina G3 lado a lado. E isso tecnicamente ocorreu com o dueto entre Guilherme de Sá e Mauro Henrique (que na época ainda fazia parte do G3)

E o resultado foi o melhor dos mundos. Duas das vozes mais potentes e talentosas do país cantando para os fãs mineiros a plenos pulmões. Uma produção impecável digna desses artistas que conseguiram até furar a bolha do gênero “gospel” e atingiram parte do mainstream, graças às composições de Guilherme.

É impossível não se emocionar com a abertura grandiosa de “Jamais Será Tarde Demais”, cantada em coro pelo público. Um registro impressionante dessa banda que se tornou um expoente nos últimos anos, com um rock esculpido em letras dignas de literatura.

Ouça aqui


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana