16 de agosto de 2021
Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. A newsletter desta semana é especial apenas com clássicos que se destacam na discoteca dos nossos colaboradores. Muita coisa velha, outras nem tanto, mas sempre com algo em comum: aquele “gostinho” de clássico. Discos que não saem da nossa cabeça e dos nossos corações, independente da época em que foram lançados!
IT’S A CLASSIC
Por Bruno Leo Ribeiro
QUEM É O PRÓXIMO?
Em 1969, o The Who lançou um dos discos conceituais mais importantes da história da música, o Tommy. Em 1970, depois de lançar o ótimo Live At Leeds, o The Who começou a trabalhar em um outro disco conceitual chamado Lifehouse. A ideia do disco veio de uma série de colunas que o guitarrista Pete Townshend escreveu para a Melody Maker em agosto de 1970, onde ele discutia a importância do Rock e o que o público poderia fazer. O Pete Townshend queria usar a música como um instrumento de comunicação e queria expandir pra outras mídias, incluindo o cinema, para fugir do ciclo tradicional de álbum / turnê. O Townshend descreveu Lifehouse como uma ópera rock futurista pra ser gravado ao vivo e ser usado como a música de um filme.
Mas no fim das contas, por conflitos com o empresário da banda, eles e o próprio Pete Townshend, resolveram alterar um pouquinho o caminho e resolveram usar as ideias conceituais futuristas do Lifehouse em um disco de Hard Rock cru. Essa visão futurista no contexto de 1971, foi usada nos sintetizadores em loop e teclados com timbres diferentes.
Nessa junção de Hard Rock e sintetizadores, nasceu um dos maiores discos de Rock de todos os tempos. O disco conta com músicas incríveis como “Behind Blue Eyes”, “The Song Is Over”, “Let’s See Action” e “Baba O’Riley”, um dos grandes clássicos da banda.
Pra muitos, e também pra mim, o Who’s Next é o melhor disco da banda (um pouco na frente do conceitual Tommy). É um desses discos que não dá pra pular nenhuma faixa. Tudo se encaixa perfeitamente. Quando acaba você pensa… “Mas já?!”.
14 de Agosto, essa obra prima completou 50 anos. Fica aqui nossa homenagem. Ouçam The Who e ouçam o Who’s Next.
Por Vinícius Cabral
QUANDO O CORPO NÃO ESPERA O QUE CHAMAM AMOR
No último dia 7 do mês de agosto, Canción Animal do Soda Stereo completou 31 anos. Há pouquíssimo que eu possa acrescentar ao detalhamento cirúrgico que a Bruna Soares fez em nosso Especial Soda Stereo sobre esse disco. Seria redundante e desnecessário re-explicar o conceito do álbum, a capa, as participações (como de Pedro Aznar e Daniel Melero), a potência dos arranjos “crus”, o clima meio Pixies. O que eu posso fazer, claro, é reforçar minhas impressões e relação com o disco, já trintão e ainda cheio de gás.
Como vocês devem saber, esse não é meu disco preferido do Soda, mas a concorrência é absolutamente desleal: a partir deste álbum, a banda começou a mergulhar autenticamente no universo do indie rock, extrapolando tudo e “metendo o Stereolab” de verdade em seu último disco de estúdio, Sueño Stereo, de 1995.
Mas, claro, na trajetória que tivemos o prazer de descortinar para os ouvintes, Canción Animal é parte indispensável de um amadurecimento ímpar. De uma banda que, de headliner digna de lotar arenas, evolui para um projeto intimista, autoral, sutil. Reouvindo coisas como a faixa-título (e sua letra de amor crua, carnal e relativamente sórdida) e a maravilhosa 1990 (com seu clima indie-folk totalmente straightforward), fica bem nítido o caminho que a banda ia pavimentando. Dynamo e Sueño Stereo não poderiam ter simplesmente caído de pára-quedas no meio da cena do rock latinoamericano. São discos que só tem precedentes dentro da própria obra do Soda Stereo, passando por esse escandaloso exercício estético que é Canción Animal.
Por Márcio Viana
TUDO QUE EU SEMPRE SONHEI, TANTO QUE EU CONSEGUI
O ano era 2009 e eu havia parado de receber e-mails do remetente Luiz Venâncio, um insistente cantor e líder da banda Pullovers, que cantava músicas em inglês. Minha memória apagou totalmente a origem e razão de eu estar na lista de e-mails promocionais que visavam divulgar canções da banda, que – veja só – eu nunca me interessei em ouvir, apesar da insistência, e assim permaneci até o momento em que tive notícia do lançamento de um disco com todas as letras em português, com o grupo ainda liderado por Venâncio, mas com uma formação totalmente nova ao seu redor.
E foi assim que eu conheci Tudo Que Eu Sempre Sonhei, lançado pela banda, e muito provavelmente o melhor disco nacional daquele ano. De cara, chamou atenção a abertura, com a faixa-título embalada por voz e violoncelo nos primeiros vinte segundos, com a letra divagando sobre as agruras da vida, da juventude à maturidade. Clássico imediato, seguido por outras letras e títulos inspirados, como O Amor Verdadeiro Não Tem Vista Pro Mar, Futebol de Óculos, Marcelo ou Eu Traí o Rock, O Que Dará o Salgueiro? (aposto que Arnaldo Antunes gostaria de ter escrito o refrão dessa).
Há ainda a belíssima Todas as Canções São de Amor, para mim a melhor do disco, que além de tudo dialoga com a segunda faixa. Por fim, o disco termina como começou, fazendo uma reflexão sobre a vida adulta, de um jeito meio conformado com a sensação de inadequação, na valsa Tchau.
O fato é que o grupo se separou muito pouco tempo depois do lançamento do disco, de um jeito meio inexplicável. Também inusitada foi a presença de O Amor Verdadeiro Não Tem Vista Pro Mar na trilha da novela Além do Horizonte, da Rede Globo em 2013, pelas mãos do produtor Eduardo Queiróz, que ouviu o disco e achou adequado para uma trama jovem, lamentando ao ser informado que a banda havia acabado.
Acho muito curioso notar, porém, que todas as vezes que compartilho alguma música deste disco, recebo a aprovação de alguém que o considera um clássico. E bem, é por isso que ele está nesta newsletter hoje.
Ouça Tudo que Eu Sempre Sonhei aqui
Por Brunno Lopez
ESTRATOSFERA
Este sujeito traz grandes feitos em sua carreira atrás de algumas de suas baterias. Do indispensável The Cult até o gigantesco Guns n’ Roses, Matt Sorum pode ser considerado um músico bem sucedido na cozinha de qualquer uma dessas bandas.
Em 2014, ele mostrou outras facetas além das habilidades com as baquetas. Na realidade, ele até já tinha apresentado um pouco desses talentos no seu primeiro disco solo, o Hollywood Zen, mas a sonoridade ali estava próxima ao som que ele havia feito em seus projetos de sucesso. Agora, em Stratosphere, o resultado foi realmente digno do nome: é de fato algo que cruza os limites do céu e nos transporta para um lugar tão alto quanto a estratosfera.
Além das letras profundas, galgando sobre temas de importante reflexão como direitos humanos e dos animais, Matt assumiu violões, piano e os vocais dessa aventura, mostrando uma belíssima capacidade de fazer excelentes canções numa atmosfera impossível de não se deixar levar.
Um clássico que pode não ter recebido a atenção necessária na época, mas certamente ecoa pelos ouvidos mais atentos de quem aprecia a música feita com o coração. E ninguém melhor que um baterista pra pegar essas batidas e fazer arte.
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana