
01 de novembro de 2021
Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana nosso time destaca lançamentos que têm feito suas cabeças.
LANÇAMENTOS
Por Bruno Leo Ribeiro
ESSE HOMEM NUNCA ERROU

Jerry Cantrell, um dos grandes guitar heroes da geração dos anos 90, já é conhecidíssimo pelos seus riffs e harmonias de voz no Alice in Chains. Em carreira solo, o Jerry lançou o Boggy Depot em 1998 e Degradation Trip Volumes 1 & 2 em 2002. Foram quase 20 anos sem um disco solo e, pra nossa sorte, ele voltou com o Brighten agora em 2021 pra mostrar mais nuances das suas influências.
No Alice in Chains, ele mostra que é um dos guitarristas que mais conseguiu decifrar os segredos do Tony Iommi do Black Sabbath, mas o que ele poderia adicionar na sua carreira solo?
Nesse novo lançamento, Jerry traz os temperos da sua infância ouvindo Country e Blues, além de sua paixão pelo Elton John. Pra quem já gosta de Alice in Chains, esse disco irá agradar, mas vai além.
Pra sua banda, Jerry chamou o velho conhecido Duff McKagan (Guns N’ Roses, Velvet Revolver, Hollywood Vampires) pro baixo, Greg Puciato (The Dillinger Escape Plan) pras vozes adicionais e Gil Sharone (Stolen Babies, Puscifer, Dillinger Escape Plan) pra bateria e a mixagem ficou com o incrível Joe Barresi (Soundgarden, Avenged Sevenfold, Nine Inch Nails, Slipknot e muito mais).
É um disco extremamente sólido na primeira audição e que vai melhorando a cada play. Das músicas do disco, Atone já nasceu clássico. Brighten é um Blues Rock com harmonias sensacionais. Prism Of Doubt é um Country Rock com pitadas de Johnny Cash e Willie Nelson. Black Hearts and Evil é a balada pra se ouvir de olhos fechados. Já o hino Siren Song é uma das músicas bonitas que o Jerry já fez. Tudo que a gente ama na criatividade dele está ali.
O disco continua com Had to Know, um “rocão” que te leva pros anos 90 e segue com Nobody Breaks You e Dismembered. Pra fechar o disco, um cover de Goodbye do Elton John. O Jerry disse que pessoalmente conseguiu a benção do próprio Elton pra gravar sua versão. Uma canção lindíssima pra fechar o disco.
O Jerry Cantrell nunca errou e com o Brighten ele nos traz um disco sólido, com melodias bonitas, belos riffs de guitarra e nuances do seu gosto musical. Não tinha como dar errado. Um dos álbuns mais legais do ano.
Ouça aqui o Brighten do Jerry Cantrell
Por Vinícius Cabral
O MELHOR DISCO BRASILEIRO DO ANO?

Não sei.
Sinceramente não sei. Mas já deixo apostado que Delta Estácio Blues, de Juçara Marçal, será assim coroado por no mínimo duas em cada três revistas e sites especializados ao final do ano. Anotem a previsão, porque é certeira.
O que não significa, é claro, que este seja, indiscutivelmente, o melhor disco brasileiro do ano. Vamos aos fatos:
1 – É, sem dúvida, um disco forte. Nao só por trazer em sua ficha técnica a nata da produção e composição da música brasileira contemporânea: Kiko Dinucci, Negro Léo, Fernando Catatau, Tulipa Ruiz, Tantão…mas também, e talvez principalmente, pela performance e pelas letras de Juçara, totalmente afiadas e precisas.
2 – O disco tem enormes pérolas. A faixa título relata um encontro imaginário entre Robert Johnson e os bambas do Estácio (Bide, Baiaco, Ismael), no casamento entre samba e blues que a gente tanto comemora – por ser, claro, uma relação totalmente pertinente. A música é um espetáculo à parte: um violão em loop mira em Robert Johnson, com um riff esquisito, mas acerta em Animal Collective. É um condutor incrível de uma música antológica, que se desenvolve com percussão, samplers, e com a performance cristalina de Juçara.
3 – Há no andamento do álbum outros destaques óbvios: a melodia e letra sensacionais de Sem Cais, a potência de Ladra, a belíssima Iyalode Mbé Mbé (cantada em Yorubá) e, claro, a obra-prima Lembranças que Guardei, de Juçara, Dinucci e Catatau, que empresta seus vocais a uma melodia que, certamente, é sua. A música vê o encontro das paredes criativas de Dinucci com a inconfundível capacidade de Catatau em incorporar o Roberto Carlos em refrões inesquecíveis. Pra completar, a voz de Juçara é aqui processada por um autotune, o que garante à canção um elemento imponderável, delicioso. Chega a lembrar Rosalía (em seus melhores momentos).
4 – Ora, com todos esses pontos altos, então é realmente o melhor disco do ano, não? O problema é esse: conhecemos competidores? Já faz quase uma década que, ano sim, ano também, alguma produção ligada a esse time figura entre os grandes destaques do ano. De Elza Soares a Metá Metá, passando pelo próprio Negro Leo ou Tantão e os Fita, parece ser o arranjo Qtv (quintavant) – Yb music – Natura Musical o grande fomentador da “nova” música brasileira, que é sim embalada, muitas vezes, por maneirismos repetitivos.
5 – Essa ficha caiu pra mim com a canção deste álbum, Crash, com sua batida quebrada e com a voz de Juçara distorcida, em uma melodia que é, claramente, um samba “roqueado” (num esquema meio krautrock–Radiohead das ideias). A descrição parece desenhar uma bela canção, certo? Com certeza. O problema é só um: no quê ela se difere de Metá Metá, ou de qualquer canção do célebre A Mulher do Fim do Mundo? Bends estranhos, mixagem com grave e ruído. Já ouvimos isso antes…
6 – Pois é. É de maneirismos que estamos falando aqui. Há uma fórmula na experimentação deste disco. E, quando há fórmulas, o quanto algo pode ser experimental? Me parece razoável afirmar que, pontuadas as ressalvas de momentos efetivamente inovadores, esse disco pode ser considerado hermético, maneirista, empostado. Como muitos não se furtam a classificar Metá Metá, Passo Torto e outras experiências de Dinucci e sua “gangue”, ora taxados como “vanguarda paulista”, ora como “nova mpb”. Os rótulos são horrorosos, mas há, sim, um contexto repetitivo aqui.
7 – O que me leva ao último ponto. Goste ou não de Delta Estácio Blues, se é um disco entre a inovação e o maneirismo – o que no frigir dos ovos faz dele um disco, no mínimo, controverso – por que prevejo uma relativa unanimidade nas listas de final do ano? Porque é assim que tem sido. Sem saber pra onde mais olhar, vamos de quintavant, nova mpb, vanguarda paulista, ou como você melhor prefira definir. Nenhuma crítica estética que eu faça ao álbum, ainda que muito bem embasada, anula o fato de que, no dia seguinte a seu lançamento, ele já era tido por muita gente como o melhor disco brasileiro do ano.
Isso é muito sintomático.
Por Márcio Viana
OS REIS ESTÃO NUS

Na mesma semana em que os holofotes se viraram para acompanhar o que Caetano tinha a dizer com Meu Coco, a mesma fruta era responsável pela abertura de um outro álbum brasileiro com dois outros grandes: naquela que é a única música em parceria dos dois, João Donato e Jards Macalé iniciam com um grito de “Só alegria!” a faixa Côco Taxi, canção inspirada num passeio de triciclo por Havana.
Reunidos a convite da nova gravadora Rocinante, os veteranos não se fizeram de rogados, e até posaram nus (cobertos por folhas) para a capa do álbum, chamado Síntese do Lance.
Nas diversas entrevistas para promover o álbum, os dois demonstram que, apesar da ideia ter surgido do selo, era tudo uma questão de tempo e oportunidade para que se reunissem. Ainda que a parceria na composição esteja apenas em uma faixa, ambos tocam em todas – Jards no violão, Donato no piano, o que sabem de melhor fazer.
O fundador da gravadora Rocinante, Sylvio Fraga, também músico, aliás, participa e assina algumas composições, como Açafrão, com Donato e Marlon Sette, para mim o momento mais inspirado do disco.
Há também algumas parcerias com Joyce Moreno e Ronaldo Bastos. Se em uma audição mais minuciosa dotada de análise, o disco talvez não tenha lugar garantido entre os melhores do ano, é bem verdade que ele cumpre o papel proposto pelos dois veteranos mestres: divertir. Em um momento da história em que a diversão enfrenta tantos obstáculos, parece um bom caminho.
Por Brunno Lopez
QUANDO A DOR VIRA OBRA-PRIMA

Em newsletters passadas eu já havia destacado o absurdo de qualidade que o até então single do novo disco do Mastodon, “Teardrinker”, já trazia.
Agora, com o álbum lançado, pode multiplicar a expectativa por 2. Hushed and Grim é possivelmente um dos melhores trabalhos de toda a história da banda, com toda a beleza da tristeza que o inspirou a nascer – a morte do empresário da banda, Nick John.
O impacto da audição completa ainda não me torna capaz de descrever a experiência de uma forma mais fiel, e certamente a farei com o cuidado e detalhismo que este acontecimento merece. É uma paulada imprevisível, profunda, densa e bonita.
E é ainda mais uma porção de adjetivos que terei prazer em classificar. Só não sei ainda se é Top 3, 2 ou 1.
Eu tô sem palavras.
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana