Newsletter – Silêncio no Estúdio Vol. 120

08  de novembro de 2021


Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. A newsletter desta semana é especial apenas com clássicos que se destacam na discoteca dos nossos colaboradores. Muita coisa velha, outras nem tanto, mas sempre com algo em comum: aquele “gostinho” de clássico. Discos que não saem da nossa cabeça e dos nossos corações, independente da época em que foram lançados! 


IT’S A CLASSIC

Por Bruno Leo Ribeiro

CÉREBRO DE MINHOCA

Nunca é tarde pra se conhecer um disco clássico. Pra isso existem listas, vídeos, podcasts (essa newsletter) e revistas pra gente consumir e despertar a nossa curiosidade.

Foi assim comigo no Maggot Brain, disco de 1971 do Funkadelic. Uma banda que misturou aquele Funk Soul com Psicodelia e fico feliz em ter redescoberto esse disco depois de tantos anos.

Não exatamente redescobri esse disco em 2021, mas foi ali por 2010 que um amigo de trabalho mandou o link com um vídeo da banda pra eu curtir a linha de baixo. Um vídeo levou pra outro e quando vi já tava baixando o Maggot Brain.

É um disco de conforto e que me dá alegria. Um clássico que nunca é tarde pra se revisitar de tempos em tempos.

1971 foi realmente um ano mágico pra música e além desse, fui descobrindo outras obras de arte do mesmo ano. (Já fica aqui um Spoiler que há rumores que acabamos de gravar mais um Cronologia da Música de 1971). Vá aquecendo pro episódio com esse disco sensacional que acabou sendo o último disco da banda com alguns dos seus integrantes originais, já que Tawl Ross (guitarra), Billy Nelson (baixo) e Tiki Fulwood (bateria) deixaram a banda.

Vem ser feliz com o Maggot Brain aqui


Por Vinícius Cabral

O PRODUTO DA REVOLTA

Tudo que você puder imaginar já foi dito sobre este álbum, um dos mais célebres e repercutidos dentre aqueles que completam 30 anos em 2021. Vou tentar contribuir para o debate, como sempre, trazendo uma perspectiva diferente. 

Eu não sou fã incondicional do Nevermind. Talvez porque seja um disco “produzido demais” para os parâmetros do que podia ser esperado de um álbum de rock alternativo – e para os parâmetros do que a própria banda parecia querer. Talvez por causa das guitarras excessivamente metalizadas e comprimidas (resultado do trabalho com Andy Wallace). Talvez, ainda, porque a faixa de abertura, Smells Like Teen Spirit seja uma mera tentativa (confessa) de Kurt em fazer algo parecido com Debaser, dos Pixies – sua banda preferida. O fato do Nirvana ter se tornado uma das maiores bandas de rock de todos os tempos a partir desta música, enquanto os Pixies ainda amarguram alguma obscuridade, diz mais sobre o mundo em que vivemos do que sobre o controverso roubo de Cobain. Afinal, é importante sempre lembrar que, na cultura capitalista, raramente qualidade e invenção são premiadas. Quando vemos algo explodindo no mainstream, certamente aquilo se originou em outro contexto. 

Mas claro, Cobain não tinha culpa nenhuma disso. Sempre admitiu suas inspirações e cópias e sempre tentou promover as bandas que lhe inspiraram – de Pixies a Bikini Kill, passando por Young Marble Giants e até Os Mutantes. O cara era uma biblioteca ambulante de referências, e entendia muito bem seu  trágico destino: o de incorporar o rockstar torturado da apodrecida indústria musical. Eu já falei sobre esse assunto no blog da 300 Noise, em um texto do qual tenho bastante orgulho. Então nem vale a pena me alongar. 

O que eu diria novamente, é que, apesar de todo o aspecto “emulador” deste álbum, ele não teria chegado onde chegou não fosse, no fundo, dotado de extrema sensibilidade e verdade. Porque é um pouco isso, também, que Kurt representa até hoje: uma revolta incontida com o mundo em que vivemos, encapsulada em canções raivosas e sinceras, cheias de amor, ódio, fúria e punk rock. Este é, pra mim, o grande feito de Nevermind; ter levado a rebeldia de um rock verdadeiramente alternativo para as massas. 

Em adesivo na guitarra, a frase: “Vandalismo: tão bonito quanto uma pedra na cara de um policial”. Foto antológica de André Barcinski, tirada do Twitter 

Ouça aqui a versão Deluxe de 2011 do Nevermind (para mim a melhor) 


Por Márcio Viana

WE HOPE YOU WILL ENJOY THE SHOW

Tenho pensado bastante sobre o conceito de álbum clássico. O que se convencionou chamar como tal, acaba por trazer alguns elementos como sucesso, influência, alcance, época do lançamento, etc.

Mas em conversas entre os integrantes do Silêncio no Estúdio, geralmente chegamos ao consenso de que o clássico pode ser até um álbum recente, um álbum que consideramos importante, mesmo que não tenha feito sucesso estrondoso e mesmo um álbum que não tenha influenciado declaradamente outros artistas.

Dito isso, achei que poderia ser interessante trazer o relato sobre um disco de covers, digamos inusitadas, dos Beatles, descobertas por intermédio de uma lenda. Na carreira do quarteto de Liverpool, lendas são frequentes e na maior parte das vezes inverossímeis. Basta que lembremos da mais famosa, de que Paul McCartney teria morrido em um acidente e sido substituído por um sósia em meados dos anos 60.

A lenda da vez, da qual tomei conhecimento no último final de semana, buscando uma música no Spotify e caindo no nome do disco em questão, diz respeito a uma suposta visita ao México de dois Beatles em 1969 – John e Paul ou John e George, não fica claro, para visitarem em Oaxaca a famosa xamã Maria Sabina (1894-1985), famosa por sua experiência na disseminação do consumo de cogumelos alucinógenos para fins terapêuticos e espirituais.

Não se sabe se a tal visita realmente ocorreu, mas a página dedicada à xamã na Wikipedia menciona rumores sobre a ida de nomes como Bob Dylan, Mick Jagger e Keith Richards à sua casa nos anos 60. Tudo sem comprovação, mas enfim.

Essa história serve ao menos como pano de fundo para explicar a existência do disco Adiós a Los Beatles, de 1971, um ano após o fim do quarteto britânico, em que uma banda – no sentido estrito mesmo, como uma banda marcial, um conjunto como os de bombeiros, com instrumentos de sopros e percussão – grava peculiares versões instrumentais para 10 canções do grupo:

  1. Ob-La-Di, Ob La Da

  2. I Want To Hold Your Hand

  3. Carry That Weight

  4. Yesterday

  5. Eleanor Rigby

  6. Yellow Submarine

  7. Hey Jude

  8. Girl

  9. I Should Have Known Better

  10. A Hard Days Night

O negócio é que se o projeto em si, independente da execução, for uma farsa, guarda aqui uma coincidência: o grupo é denominado La Banda Plastica de Tepetlixpa, similar ao nome escolhido por John Lennon para a banda que o acompanharia em sua carreira solo, a Plastic Ono Band.

Tepetlixpa, aliás, é um município bem pequeno do México, com 46,68 km² de extensão. Na contracapa do disco, é contada por José M. Silva, idealizador da banda e do disco, uma pitoresca história em que a Magical Mistery Tour teria passado pelo México para visitar os vulcões Popocatepetl e Iztaccíhuatl, passando pela pequena cidade e recebendo emocionados a homenagem da fanfarra, levando a banda em seu pensamento.

É verdade? Provavelmente não, mas afinal de contas, que diferença faz?

Ouça Adiós a Los Beatles


Por Brunno Lopez

O HIT QUE NÃO FICOU SÓ NO HIT

Pat Monahan é certamente um estereótipo de personagem que poderia tranquilamente estrelar qualquer papel em seriados com alta concentração de romance, ou talvez em longas açucarados do calibre de “O Melhor Amigo da Noiva”. Mas isso não é uma crítica cinematográfica, até porque este que vos digita acredita plenamente que a sétima arte é uma área com camadas profundas de subjetividade, sendo um tanto quanto impossível cravar a genialidade de um longa e a mediocridade de outro.

De qualquer forma, o vocalista do Train performa com originalidade admirável nas faixas sonoras da vida, principalmente nos primeiros acordes de piano de Drops of Jupiter. Ora, o rock pop quase country pós anos 2000 precisava de algo que fizesse carinho no ouvido das pessoas. Aos que pararam para ir além desse hit respeitado não apenas dos ouvintes mas até dos songwriters, o mundo se abre ainda mais para as atuações no decorrer das faixas.

Ainda que alguns preguiçosos queiram sugerir que tudo ali não passava de uma banda de São Francisco querendo soar como Counting Crows embebidos num fio de rock n’ roll, a realidade se mostrou bem mais impressionante do que tal definição. O grupo soube transitar por temas que circundam o universo do amor e seus desdobramentos sem parecer piegas demais – ou talvez no limite extremo dessa abordagem. 

Então, como comédias românticas que a gente pega no meio e não consegue parar de assistir, Drops of Jupiter traz essa atmosfera de aconchego em horário comercial, numa daquelas tardes que estamos de folga. Um convite para olhar a trivialidade de um jeito mais otimista com 11 canções feitas na medida para um entretenimento merecido.
A diferença é que, ao invés de pegar pipoca, você só precisa dos fones de ouvido.

Ouça aqui


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana