Newsletter – Silêncio no Estúdio Vol. 117

18 de outubro  de 2021


Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana nosso time fuça seus apps de streaming e suas discotecas (físicas) especiais para revelar o que anda nos plays recentes, embalando seus dias. São dicas especialíssimas que revelam os gostos pessoais do grupo e reforçam toda a diversidade apresentada semanalmente em nosso podcast.  


RECENT PLAYS

Por Bruno Leo Ribeiro

ESSE MERECE ABSOLVIÇÃO

Será que o Muse deixou claro que iria nos enganar? Não consigo ver as pistas que a banda iria virar essa megalomania de hoje. Quando apareceu, o Muse era a banda mais “alternativa” que o metaleiro true curtia e a banda mais heavy metal que a galera alternativa conseguia ouvir.

O Muse tinha tudo pra ser a banda que iria unir todas as tribos. O Deftones abriu os caminhos pra essa união com o White Pony em 2000, e o Muse pegou carona, se estabelecendo como o grande representante da mistura do Pós-Brit Pop, Rock Alternativo e Metal.

Os 2 primeiros disco da banda, o Showbiz (1999) e Origin of Symmetry (2001) são excelentes, mas foi com o 3° disco “Absolution” que a banda explodiu cabeças e até gerou plágios do Dream Theater no Octavarium, que gostou tanto que resolveu copiar duas músicas.

Essa semana, acabei comprando o vinil do Absolution e não me arrependi. Se é pra ser enganado, melhor que seja um com um disco perfeito. Absolution merece absolvição. A banda tinha créditos pra fazer mais uns 2 discos sem sentido, mas eles já gastaram essa cota com os discos depois do ainda bom Black Holes and Revelations.

Do “The Resistance” pra frente, é bem sofrível de acompanhar. As pessoas ainda insistem em acusar o Coldplay de banda que mais mudou e ficou ruim nos últimos anos, mas pra mim, esse troféu é do Muse. Coldplay, por mais Pop que tenha ficado, sempre tem 3 ou 4 músicas em todos os discos desde o Mylo Xyloto que são ótimas (sendo Pop demais ou não).

Mas quando as bandas mudam e param de agradar, é melhor ouvir os discos antigos do que gastar energia reclamando do que ficou fraco. O lance é ouvir os 4 primeiros discos da banda e o Absolution é perfeito mesmo. Talvez, um dos melhores discos de 2003.

Ouça aqui o Absolution do Muse


Por Vinícius Cabral

AS MATRIZES DA ESQUISITICE

A pesquisa para o episódio Geografia Musical – País de Gales, foi uma verdadeira avalanche de revelações. Claro que, de tanto ouvir algumas bandas, eu já tinha noção de algumas coisas. Dentre elas, que a música galesa (em geral) preza por uma liberdade musical extrema, apontando para uma esquisitice que não é exclusividade das métricas na língua celta (embora a língua, estranhíssima para nós, ajude a consolidar essa impressão). Mesmo em inglês, alguns monstros como John Cale parecem ter nascido com essa perspectiva meio “folk estragado”, lidando com belíssimas melodias de um jeito terrível do ponto de vista técnico – o que torna tudo tão diferente … tão …. alternativo mesmo. 

E, de Cale a contemporâneos, como Cate Le Bon, isso que estou citando parece ser uma regra. Olhando para a cronologia histórica que eu construí para o episódio, dá pra apontar dois álbuns do início dos anos 70 como matrizes dessa tradição alternativa galesa tão marcante. O primeiro seria Vintage Violence, do mestre Cale. Tendo fundado The Velvet Underground, o artista certamente foi responsável pelos instrumentos esquisitos e pelo clima efetivamente underground que definiu a banda como uma das inventoras do rock alternativo. Mas ele ainda podia muito mais em sua carreira solo. Seu primeiro álbum já é um absurdo, com clássicos da altura de Gideon’s Bible e Amsterdam. Parece não ser o melhor disco dele (muitos apontam para o Paris, 1919, e eu concordo). Ainda assim, é claramente uma dessas matrizes. 

O segundo é Gwymon, do mestre Meic Stevens. Meic é uma verdadeira força do folk galês. Com seu violão e sua gaita, atravessou as gerações abençoando-as com algumas parcerias e, claro, com muita inspiração – é notória a influência de seu senso melódico em artistas como Gruff Rhys. Embora seu primeiro álbum, Outlander, seja ainda muito “dylanesco”, cantado em inglês e com algumas digressões psicodélicas meio datadas, no segundo, Gwymon, Meic se revela. Os gritinhos desafinados que sustenta ao final da canção Traeth Yn Obaith não me deixam mentir: é impressionante que esse disco seja de 1972. É possível encontrar em qualquer das bandas galesas que eu tenha destacado, de 90 pra frente, músicas inteiras fortemente influenciadas pelo jeito de Meic compor e cantar. São matrizes, realmente, de uma tradição musical absolutamente original. 

Ouça Vintage Violence aqui

Ouça Gwymon aqui


Por Márcio Viana

DE VOLTA ÀS VERDADEIRAS ORIGENS

Por muitas vezes, a gente inicia um trabalho de pesquisa para um episódio do podcast e acaba surpreendido por um conhecimento adicional obtido, totalmente fora do planejado. Escrevendo o roteiro do Raio-X sobre o disco O Filho de José e Maria, de Odair José, nas plataformas a partir de quarta-feira, 20/10, tive contato com as referências do cantor, que citou em várias entrevistas o trabalho dos guitarristas Peter Frampton e Joe Walsh, em seus grupos de origem, o Humble Pie e o James Gang, respectivamente, e também em seus trabalhos-solo. Pois bem, além do disco-objeto de nosso episódio, me propus ouvir os trabalhos citados pelo cantor, a fim de entender um pouco mais sobre suas influências. Assim, depois de algumas audições do disco Frampton Comes Alive, que resenhei há algumas semanas neste espaço, fui conhecer um pouco mais sobre o power-trio James Gang, do qual Joe Walsh fez parte.

Entre os três álbuns de estúdio da formação que incluiu Walsh como guitarrista e vocalista, escolhi o derradeiro, Thirds, para prestar um pouco mais de atenção, e a razão é simples: neste álbum, a banda avançou alguns passos, sobretudo por iniciativa do citado músico, que tinha como companheiros de banda o baixista Dale Peters e o baterista Jim Fox. Joe Walsh, naquele momento o principal compositor do grupo, decidiu que os colegas precisavam contribuir um pouco mais na criação. Além do ecletismo trazido por esta diversidade, o fato do guitarrista começar a se interessar por outros instrumentos, como os teclados (que ele próprio tocou) e os arranjos de cordas, levaram a banda a alcançar uma nova sonoridade, em canções como Again, Things I Could Be e White Man / Black Man. Há ainda um flerte com a country music em Dreamin’ in the Country, e o disco finaliza emotivo com Live My Life Again.

O que seria a consagração para o grupo virou um ponto de interrogação sobre os próximos rumos, já que Joe Walsh resolveu deixar a banda logo depois, interessado em seguir explorando novos sons, mas em outros formatos menos limitados que um trio. As formações posteriores reservaram ao James Gang mais uma página na história do rock ao incluir um certo guitarrista chamado Tommy Bolin entre os integrantes. Mas isso é algo para ser contado em outros episódios do podcast.

Por fim, é possível reconhecer em Thirds e em seus antecessores muito da sonoridade que inspiraria Odair José em sua busca por um grande álbum de rock. Nos vemos no Raio-X para conferir essa história.

Ouça Thirds


Por Brunno Lopez

CASTELOS DE CONCRETO

Não, eu não estou falando de um lançamento do Rhapsody, ainda que o nome do álbum tenha total inclinação para algo que o grupo italiano costume fazer dentro de sua cena musical. Trato aqui de uma banda de rock alternativo (?) da Pensylvânia que, assim como The Killers e Imagine Dragons, começou fazendo covers e marcando presença nas plataformas sociais, com mais de 1 milhão de inscritos no Youtube, por exemplo.

Felizmente, eles não ficaram apenas criando versões de canções de outros artistas. O trio mostrou que podia ir além dessas releituras e apresentou um material autoral inspiradíssimo. Essa energia já é percebida no single que dá nome ao disco, a viciante “Wish I Missed U”, que soa como um equilíbrio ousado entre um pop de bom gosto com aquele rock mais contemporâneo.

Claro, rotular sempre parece algo que mais limita do que exemplifica, portanto, talvez seja mais adequado imaginar que o som que produzem é a mistura do que os integrantes cresceram ouvindo individualmente. Logo, o Concrete Castles tem no alicerce de sua fortaleza sonora o country da vocalista Audra Miller, passando pelo glorioso Hard Rock & Hair Metal oitentista do guitarrista Matt Yost e terminando no rock clássico e emo do baterista Sam Gilman.

Independente de todo esse panorama de influências, é bom escutar com atenção o trabalho desses 3 jovens que poderiam ficar apenas nos covers mas decidiram criar música – inclusive, ótimas para covers.

Ouça aqui


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana