04 de outubro de 2021
Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana nosso time destaca lançamentos que têm feito suas cabeças.
LANÇAMENTOS
Por Bruno Leo Ribeiro
A CHAVE DE UM AMOR RUIM
O Pop já passou por tanta transformação que é difícil apontar uma linha principal no desenvolvimento do gênero. É difícil inovar e, principalmente, é complicado ser o carro chefe dessas mudanças. Quando achamos que Pop já saturou e não tem mais pra onde ir, o K-Pop fala, “Hold My Beer”. E o mini álbum BAD LOVE, vai no passado pra pegar impulso e se jogar pro futuro.
Fazendo um Synth Pop Retro Futurista, Key (integrante do SHINee), faz seu disco solo com uma precisão brilhante. Usa uma linguagem do passado pra apontar para o futuro. É muito mais do que apenas uma nostalgia ou uma homenagem, o EP usa o que existe de melhor e puxa o Pop para outro nível.
Mostrando uma criatividade incrível, as 6 músicas do BAD LOVE são uma amostra de onde o Pop pode ir e provavelmente não vai parar por aí. Não é apenas uma homenagem ao retrô, como vimos no Future Nostalgia da Dua Lipa, é uma música atual que soa familiar.
Quando prestamos atenção apenas na música e na qualidade das suas melodias e composições, o K-Pop precisa ter esse destaque. O mundo da música é global e o Pop feito na Coreia do Sul não pode ser visto apenas como um movimento de fãs que são obrigados a verem comentários preconceituosos disfarçados de “entendimento musical”. Quem se diz entendido de música e usa sua soberba pra dizer que o K-Pop é apenas música pra jovens de 14 anos, não sabe o que está falando e mais importante, está perdendo uma evolução musical, que para desespero dos chatos, veio pra ficar e veio pra mudar tudo.
O BAD LOVE é essencial pros amantes do Pop com energia, inovação, criatividade e ótimas melodias. Um dos melhores lançamentos do ano sem sombra de dúvidas.
Por Vinícius Cabral
“DIGA A ELES QUE EU NÃO ESTAVA ME DIVERTINDO MUITO”
Quem começa a ouvir Any Shape You Take, sophomore da cantora-compositora Indigo de Souza, pode ser enganado com o indie pop da canção de abertura, 17. Com sua voz altamente distorcida em autotune, a música opera um engano (similar ao que Frank Ocean usa em Nikes, abertura de seu clássico Blonde). Não que a canção seja ruim – muito pelo contrário – mas ela utiliza elementos que não vão se repetir ao longo das próximas 9 faixas. Há algo a mais no impressionante segundo disco da compositora estadunidense de genética brasileira (sim, ela é filha de um guitarrista de bossa nova brasileiro, sobre quem não tenho muita informação). Esse algo a mais já salta aos ouvidos nos primeiros acordes de Darker Than Death: guitarras distorcidas, a explosão no refrão … uma vibe que algumas publicações têm chamado de “grunge-pop”. Faz sentido, embora eu prefira associar Indigo diretamente às artistas que parecem mais presentes ali. Os arroubos de Courtney Love em refrões como no da segunda faixa se cruzam ao senso melódico pop meio 90s, lembrando, por exemplo, Natalie Imbruglia, Sheryl Crow, entre outras – como na super pop Pretty Pictures, que embala a primeira parte do disco.
A centerpiece aqui, Real Pain, é a canção que parece traduzir melhor as duas linhas estéticas do disco. A música literalmente se divide em duas partes, com um interlúdio (novamente, em recurso similar ao que Frank Ocean utiliza em Nights ou Pyramids). A segunda parte, mais indie pop, nos arrebata com um verdadeiro refrãozão: I wanna know its not my fault (Quero saber que não é minha culpa). É sobre culpa, dor, vida e morte. São temas universais que Indigo acessa, do alto de seus 24 anos.
Uma coisa que a artista sabe fazer muito bem é acessar a ponte entre indivíduo e coletivo. Em um dos grandes destaques do disco, Hold U (com um clipe antológico e revelador do que estou dizendo), fica clara a visão comunal, de celebração coletiva que Indigo antevê – logo em um momento onde o distanciamento social, mesmo pós-pandemia, parece ser a regra.
Mas é de novo diante da ideia da morte que a artista nos presenteia com a melhor (e última) canção do álbum, a perfeita Kill Me. Tá tudo ali: o refrão hiper Courtney Love, as belas melodias da artista sobre guitarras “sujas”, uma letra fenomenal; Dirty the dishes / Stack them higher / We’re not gonna wash them / Well throw them away (Suje a louça / Deixe empilhar / Nós não vamos lavá-la / Vamos jogar tudo fora). Não é qualquer álbum que nos coloca diante de imagens assim, tão vividas e cotidianas, para depois nos jogar no fosso dos grandes temas universais – neste caso a morte, o amor, a depressão – Kill me and clean up / And if they ask you … Tell them that I wasn’t having much fun (Mate-me e limpe / E se eles te perguntarem … Diga a eles que eu não estava me divertindo muito).
A capa do disco é desenhada por sua mãe, uma artista visual a quem Indigo homenageia diversas vezes (inclusive em seu disco de estreia, I Love My Mom, lançado em 2018, mas que passou batido até ano passado), e também acessa essa ponte entre particular-universal que a artista parece dominar. Um disco estética e liricamente impecável, que coloca Indigo como uma das principais revelações do rock alternativo hoje.
Por Márcio Viana
VAPORES ENTRE O MEDO E A FANTASIA
É possível para uma banda defender um legado de outra que a originou e ainda assim construir sua própria história, ainda que trilhando o caminho já aberto por sua antecessora? Aparentemente para o Vapors of Morphine, sim.
Formada em 2009 pelos ex-integrantes do Morphine, o saxofonista Dana Colley e o baterista Jerome Deupree, cerca de dez anos após a morte do líder Mark Sandman, o Vapors of Morphine completou-se com a entrada do baixinho Jeremy Lyons, multi-instrumentista que acabou por aprender a tocar o baixo de duas cordas tal qual seu antecessor e juntou-se à banda para seguir tocando o repertório dos álbuns, além de novos sons.
O timbre vocal de Jeremy Lyons, aliás, é muito parecido com o de Sandman, o que trouxe bastante familiaridade para os fãs, que aparentemente aceitaram bem o que o trio ofereceu desde sua formação. A banda esteve no Brasil em três ocasiões, e pude acompanhar duas delas, em 2014 e em 2017.
Dito isso, o Vapors of Morphine acaba de lançar seu novo álbum, Fear & Fantasy, onde explora, além da sonoridade vinda da banda original, outras influências e elementos. Lyons por exemplo toca outros instrumentos além do baixo de duas cordas, uma limitação de Sandman que acabou por virar uma referência. E os sons graves, do baixo e do sax barítono, também dividem espaço com sons mais agudos, tanto de cordas quanto de sopros.
Outra novidade, esta ainda mais significativa, fica por conta da anunciada saída de Jerome Deupree, substituído por Tom Arey. A mudança, no entanto, não é brusca: nos dois lados do disco físico, cada baterista tem o seu momento: Deupree toca em todo o lado A, e o B fica a cargo de Arey. Para a linguagem do streaming, isso representa que o baterista original toca nas 5 primeiras faixas, enquanto o novo baterista toca nas 7 seguintes.
A situação de transição de bateristas é algo que se repete tal qual ocorreu com o Morphine: em The Night, Deupree dividiu as baquetas com seu substituto, Bill Conway.
Sobre o disco novo, acredito que vá agradar os fãs antigos, porque tem muita originalidade, especialmente em Irene e Doreen, além de explorar outras sonoridades, como reggae e ritmos latinos e botar umas guitarras para canções mais próximas do bluegrass, como Frankie & Johnny.
Talvez seja cedo para incluí-lo na lista de discos do ano, mas por enquanto tenho que dizer que há espaço para ele em minhas escolhas. Vamos acompanhar.
Por Brunno Lopez
OPEN BAR PARA BEBEDORES DE LÁGRIMAS
A tradução para o português pode até fazer com que o significado da excelente canção do Mastodon pareça algum hit temporário de algum dos sertanejos universitários financiados pelo agronegócio. Mas na prática, é muito mais profundo e impressionante do que isso (evidentemente).
O single dos caras de Atlanta é poderoso e instiga reflexões tanto na música quanto no clipe. Sonoramente falando, o arranjo inicial é marcante de uma forma realmente intensa, ilustrando perfeitamente a ideia de Teardrinker. Ele se repete num retumbante refrão, carregando essa ideia de embelezar uma melancolia, ainda que misturada com uma pegada forte e vocais ocasionalmente rasgados.
Confesso que gostei mais do que imaginava na primeira audição e precisei voltar umas 4 vezes para absorver tudo o que existia ali. Se o restante do vindouro álbum – previsto para sair no próximo dia 29 – vier com essa mesma intensidade e inspiração, não será nenhuma surpresa pra mim observar Hushed and Grim mover as prateleiras dos melhores discos do ano.
2021 trouxe um Mastodon ainda mais impressionante.
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana