6 de dezembro de 2021
Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. A newsletter desta semana é especial apenas com clássicos que se destacam na discoteca dos nossos colaboradores. Muita coisa velha, outras nem tanto, mas sempre com algo em comum: aquele “gostinho” de clássico. Discos que não saem da nossa cabeça e dos nossos corações, independente da época em que foram lançados!
IT’S A CLASSIC
Por Bruno Leo Ribeiro
VIVA A VIDA OU A MORTE E TODOS OS SEUS AMIGOS
Quando que um disco vira clássico? Existe um mínimo de anos pra isso? Pra mim não. Tem disco que já nasce clássico. E foi em 2008 que nasceu o Viva la Vida or Death and All His Friends do Coldplay. Um disco de transição que talvez seja o último disco da banda que os fãs mais fundamentalistas ainda gostam. Eu acho que ainda dá pra esticar mais alguns discos pra frente, mas essa é uma discussão pra um outro dia.
Essa quarta-feira, vai pro ar mais um Hinos da Música e dessa vez será sobre The Scientist do Coldplay, mas não vou falar do disco que todo mundo já fala bem, resolvi ser audacioso e tentar fazer todos vocês a darem um play de coração aberto nesse disco de transição que foi produzido pelo genial Brian Eno.
O Viva La Vida é um disco que pouca gente dá moral, mas tem banda que eu gosto dos discos que ninguém gosta. Pra mim, por exemplo, o melhor disco do Coldplay é o X&Y, então vou enaltecer aqui esse clássico com opiniões 100% clubistas e sem racionalidade.
Nesse álbum, tem pelo menos 4 obras primas, as músicas “Cemeteries of London”, “42”, “Lovers in Japan” e pra mim, melhor música da carreira da banda, “Violet Hill”.
Só por essas 4 músicas, qualquer banda levaria nota 10. Tirando a chatinha “Viva La Vida”, que eu particularmente não gosto, o resto do disco é muito consistente. O disco só não é melhor ainda porque ele abre com Life in Technicolor na sua versão instrumental, já que a ótima versão de “Life in Technicolor ii” cantada, saiu apenas como Single e clipe no “Prospekt’s March EP”, um EP com sobras do Viva La Vida que saiu logo depois.
Recomendo ir de coração aberto e ver a beleza desse disco que só falam se for pra falar mal. E eu to aqui como sempre, usando meu espaço pra dar espaço e não tirar espaço. Pra falar mal eu uso o Twitter… Mentira. :).
Ouça aqui o Viva La Vida do Coldplay
Por Vinícius Cabral
TUDO DEVE PASSAR?
2021 é, incrivelmente, um ano de beatlemania. Além do relançamento de Let it Be e do sucesso já estrondoso do documentário Get Back, o ano também contou com uma comoção recente em função dos 51 anos de lançamento do primeiro disco solo de George Harrison (completos em 27 de novembro). Para ampliar a lista de revivals e coincidências, a própria memória do ex-beatle esteve em evidência pela ocasião dos 20 anos de seu falecimento. George nos deixou em 29 de novembro de 2001. Natural que, com tanta coisa sendo relembrada ao mesmo tempo, a alma do fã de Beatles se acenda.
Já dissemos bastante em nosso Especial The Beatles, mas nunca é demais lembrar: George ainda merece muitos olhares (e ouvidos) atentos. Uma das coisas mais marcantes do recente documentário de Peter Jackson, é a timidez e a humildade de George, que mesmo com um catálogo gigantesco de lindas canções, não as impôs ao grupo. O resultado, claro, não poderia ser diferente: All Things Must Pass é o primeiro álbum triplo da história, e mostra que o guitarrista e compositor não estava muito distante de seus companheiros de banda em termos de habilidades como letrista, melodista, e até arranjador.
Reouvir este disco acende muitas revelações, e é quase de se comemorar que George tenha sido de certa maneira escanteado ao longo da trajetória da banda. Sua obra solo é reverenciada como a melhor e mais consistente dentre os ex-beatles, e este All Things Must Pass é um deleite completo, do início ao fim. Um disco que, apesar de muito longo, não chega a cansar, por ter pouquíssima encheção. Era, realmente, um “best of” de canções engavetadas, que mereciam logo um destaque. Certamente, o agora renomado e reconhecido George Harrison não teve muito problema de repertório ao partir para a gravação de seu primeiro álbum como solista.
Tudo deve passar. Menos a nossa paixão pelo legado descomunal que cada um dos Beatles nos deixou.
Ouça All Things Must Pass aqui
Por Márcio Viana
O PÓS-BEATLES TAMBÉM FOI UM POUCO BEATLE
Mais uma vez tabelando aqui com o texto do Vinícius Cabral, e na cola de tudo o que repercutiu a estreia de Get Back (uma lufada de ar em tempos tão severos como os nossos e em meio a tanta informação inútil que acumulamos), hoje eu reservo este espaço para contar um fato: em um universo paralelo, os Beatles continuaram depois de Let it Be. Parece difícil de acreditar, eu sei, mas este universo paralelo existe, e se chama “carreira-solo de Ringo Starr”. Ok, você pode argumentar que era comum outros ex-beatles participarem dos discos dos colegas na década após o fim da banda, especialmente George Harrison e o próprio Ringo em discos de John, mas aqui a parada era diferente: o estilo bonachão e agregador do baterista proporcionava que ele fosse constantemente presenteado pelos ex-colegas com canções para seus discos, além de grande ajuda nas gravações. A parceria Starkey-Harrison, inclusive, foi bastante produtiva, mesmo quando o guitarrista acabava por abrir mão de ser citado como autor.
Curiosamente, o disco que escolhi para comentar teria sido o disco desta década com menos participação de ex-beatles, mas calma que tem plot twist lá no fim do texto. Goodnight Vienna, pra começo de conversa, já abre com uma composição de John Lennon, feita especialmente para o amigo, cuja demo Lennon gravou com seus músicos de apoio e mandou para Ringo, bem como um arranjo próprio para Only You, de Buck Ram, gravada com sucesso pelos Platters. A demo de John cantando a música circula pela internet. A mesma faixa-título do início encerra o disco, em versão mais curtinha.
O disco ainda conta com uma composição de Elton John e Bernie Taupin, Snookeroo, coisa que àquela época a dupla, que estava voando, deveria fazer brincando. Elton John toca piano na faixa, que lembra bastante aquela levada de Crocodile Rock.
Uma outra curiosidade é a presença da bem humorada No No Song, de Hoyt Axton e David Jackson, que depois surgiria numa versão quase literal em português chamada Não Quero Mais Andar na Contramão no disco Pedra do Gênesis, penúltimo trabalho de Raul Seixas, de 1988.
Se havia mesmo um universo paralelo em que os Beatles existiam dentro dos discos de Ringo (leve em conta que mesmo nos disco da banda, nem sempre todos tocam em todas as faixas), também havia ali o pessoal que orbitava neste universo, caso do alemão Klaus Voormann, amigo desde os tempos de Hamburgo, que se mudou para a Inglaterra para tentar a sorte como baixista do Manfred Mann e também fez a ilustração de capa de Revolver. É também o caso de Harry Nilsson, norte-americano que influenciou a todos da banda, estabelecendo uma parceria forte com John Lennon nos anos 70. Em Goodnight Vienna, Nilsson contribui com sua Easy for Me. E finalmente, o imenso Billy Preston toca no disco, certamente contribuindo muito para o bom clima.
Bem, a essa altura é possível que você tenha notado que eu não citei um dos colegas, o Paul McCartney. Pois bem, por essa época, Paul estava em turnê com os Wings e não conseguiu contribuir com a versão em LP do disco. Tudo mudou em 1992, quando o disco saiu em CD, com várias faixas-bônus, como Back Off Boogaloo, parceria não-creditada de Ringo com George (em que se especulou haver um ataque a Paul, que o baterista negou).
Mas Paul acaba por aparecer nesta prensagem em CD, junto com sua esposa e parceira de Wings, Linda, fazendo vocais em Six O’Clock, composição sua presente em versão mais curta no disco anterior, chamado apenas Ringo, de 1973.
Vale lembrar que o disco foi lançado em 1974, época em que os ex-beatles acabaram tendo alguma aproximação, participando até de algumas jam sessions (não todos juntos) com participação de Harry Nilsson e Stevie Wonder, entre outros.
A audição de Goodnight Vienna, então, veio de uma vontade minha de explorar um pouco a produção do baterista, acentuada por esta percepção de que, assim como na banda, havia sempre um cuidado dos demais colegas em ajudá-lo a se expressar (vale ver a cena de Get Back em que George dá uma força na composição de Octopus’s Garden). O bônus disso é poder continuar sonhando em como seria uma reunião dos Beatles e os sons que surgiriam disso.
Por Brunno Lopez
ALGUÉM COLOCOU ALGUMA COISA NO MEU DRINK
Quem poderia imaginar que um recém-chegado nas baquetas iria ser o compositor da faixa que abriria o nono álbum de uma das maiores bandas de punk rock da história?
Pois é. Mas lá estava Richie Ramone escrevendo “Somebody Put Something In My Drink”, e ainda sendo chamado por Joey Ramone como “uma espécie de Phil Collins”.
Em 1985, o chicote estava estralando dentro do grupo e o vocalista deu uma afastada da composições, muito também pelo fato do guitarrista Johnny Ramone rejeitar praticamente todo o material que Joey trazia para o grupo. Ao menos, essa desmotivação abriu espaço para o novo membro da batera contribuir com sua criatividade.
Outra faixa presente em Animal Boy é a canção “Bonzo Goes to Bitburg”, que é basicamente um protesto sobre a visita do então presidente Ronald Reagan ao cemitério de guerra Bitburg, que guardava corpos de altas patentes do exército nazista.
Ainda que numa atmosfera conturbada, o disco tem toda a essência que se conhece do grupo, adicionando um frescor ao material. A produção poderia ter sido até melhor do que foi, se talvez o produtor escolhido tivesse sido uma opção da banda e não da gravadora.
E quem disse isso não fui eu, foi o Johnny que reclamou um pouco de como as guitarras estavam soando pouco presentes em alguns momentos do álbum.
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana