Newsletter – Silêncio no Estúdio Vol. 122

22  de novembro de 2021


Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana, nosso time destaca as principais notícias, curiosidades, acontecimentos relevantes e/ou inusitados do mundo da música ou, simplesmente, alguma curiosidade ou indicação. Claro que, cada um à sua maneira, e abordando sempre o universo musical de sua predileção.  


NOTÍCIAS & VARIEDADES

Por Bruno Leo Ribeiro

QUAL É O SENTIDO?

“Qual é o sentido de ouvir Silk Sonic se já existe essa sonoridade nos anos 70? Outro dia rolou esse papo sem sentido nas redes sociais. Essa soberba do opineiro de internet, passa por cima de qualquer debate que deve ser feito. 

Claro que existem bandas e artistas que fazem apenas um exercício de linguagem, não se importando com o passado. Mas há quem faça uma homenagem ao passado e abre-se portas pra um novo público ir atrás das referências.

Não dá pra assumir que todo mundo vá atrás do som da Motown ao ouvir o novo disco do Silk Sonic, assim como também não se pode assumir que ninguém conhece essas referências.

Meu maior problema com esses argumentos é sobre a opinião seletiva. Se a pessoa gosta do disco, é uma homenagem, se não gosta, é apenas um exercício raso de linguagem. 

Se a Dua Lipa, Jesse Ware fazem álbuns de Disco Music, “Ah que homenagem linda!” Se for o Greta Van Fleet fazendo um disco com som do Rock dos anos 70, “Aí não pode! Não são criativos o suficiente!”

Por isso acho o debate de internet ruim. As pessoas criam “regras” em cima dos gostos pessoais. 

Gostando ou não de Silk Sonic, eles fizeram um disco impecável dentro da proposta do Supergrupo. É uma bela homenagem ao melhor da Motown. Espero que esse disco sensacional inspire um novo público a procurar as músicas lá do passado. O melhor disco do ano pra você pode ser um disco de 1970 e que você ainda não conhecia. Ganha o passado, ganha o presente e ganha o futuro da música.

Ouça aqui o disco do Silk Sonic


Por Vinícius Cabral

QUAL A SUA PRAIA?

Há muito tempo que eu falo neste podcast de rock alternativo, indie, “rock estragado”, etc, etc. É difícil achar um rótulo favorável. Afinal, nada do que eu escuto e indico aqui (ou quase nada) caberia em aberrações como as playlists de “indie” do Spotify.

A minha praia é exatamente o que eu defendo nestas linhas muitas vezes como sendo parte de uma tradição cultural. Uma tradição que não une as bandas e projetos, necessariamente, por afinidades estéticas, mas por um conjunto de elementos; a cultura do k7 e das 4 tracks, fitas e CDs demo, zines, coletâneas de selos obscuros … todo um universo que pertence ao que eu chamo de indie “real” (e que vem de independente, mesmo, não há mistério aqui). A cultura do rock independente conecta alguns desses elementos (senão todos) com bandas que desafiam, por escolha ou inevitabilidade, as regras das gravadoras, rádios e, hoje, playlists, algoritmos e streamings.

Hoje eu tenho em mãos, graças a uma pesquisa avantajada sobre o País de Gales, um dos documentos históricos mais importantes do indie galês: uma coletânea com 40 canções, do compilado de mais de 80 discos lançados pelo selo Ankst de 1988 a 1998. A coletânea junta um monte de bandas independentes do país, que em algum momento se conectam no selo, e vai do registro lofi caseiro de Datblygu, Llwybr Llaethog e Gorky´s Zygotic Mynci, por exemplo, às produções mais elaboradas (e, ainda assim, underground) de bandas que chegaram a obter mais sucesso (como Super Furry Animals e Catatonia).

Um texto do encarte chamou muito minha atenção, e me emocionou de verdade: “Essas músicas nunca seriam tocadas na rádio ou na televisão galesas, e parecia que a música que a Ankst lançou seria simplesmente empurrada para o lado e esquecida.”

De fato, o verdadeiro indie está sempre na berlinda. Fica entre a consagração (onde ele geralmente se perde) e o esquecimento. Seu destino, porém, poderia ser um meio termo entre esses extremos: nem tão underground a ponto de desaparecer, nem tão grande a ponto de perder a energia e a espontaneidade.

Seja como for, coletâneas como Radio Crymi Playlist Vol. 1 (1988 – 1998) são documentos históricos de uma cultura, e precisam ser preservados. Essa cópia aqui, garanto, está em boas mãos.

*Não vai link pra ouvir, mas quase todas as bandas da coletânea estão na playlist exclusiva do episódio “Geografia Musical – País de Gales”. 


Por Márcio Viana

E A MÚSICA NO AR…

Em meio a pesquisas para o roteiro de episódios do podcast, incluindo o especial sobre o ano de 1971, acabei por dar de cara com um trabalho incrível: o Projeto Pedra Rolante, uma hemeroteca digital que consiste na digitalização completa da versão tablóide da revista Rolling Stone, que circulou no Brasil entre 1971 e 1973. O trabalho foi feito por iniciativa de Cristiano Grimaldi, que acrescentou marcas d’água e protegeu os textos para evitar cópias de seu conteúdo (parece um contrassenso, mas faz sentido se pensarmos que há quem baseie seu trabalho na cópia de textos de sites estrangeiros, o que pode significar a hipótese de alguém fazer o mesmo com conteúdos tão incríveis e já em português).

Descoberto o projeto, mergulhei na leitura e encontrei muitos textos maravilhosos sobre artistas como John Lennon, Little Richard, Maria Bethânia, Jards Macalé e Carlos Santana, entre outros.

Mas mais do que as minhas palavras, vale conferir o site do projeto, que além de todas as edições, contém explicações sobre o trabalho.

A versão brasileira da Rolling Stone que circulou no Brasil foi comandada pelo editor Mick Killingback, inglês que além de editor foi uma espécie de guru para Os Mutantes, tendo inclusive sido homenageado pela banda no disco O A E O Z, primeiro sem a presença de Rita Lee.

Há que se lamentar que esta primeira versão da Rolling Stone Brasil tenha durado tão pouco, só voltando a ter nova tentativa em 2006, já como revista, durando até 2018 e hoje restrita ao site. Mas com a hemeroteca digital, uma grande lacuna pode ser preenchida.

Acesse o site do Projeto Pedra Rolante

Ouça Rolling Stone dos Mutantes


Por Brunno Lopez

QUANDO UM EP SIGNIFICA ‘EITA PORRA’

Algumas bandas conseguem o feito quase impossível de soarem únicas. Mas únicas de verdade, sem parecer emular este ou aquele som. Esta é a razão do Thank You Scientist existir e é também esta a razão deles lançarem um EP que, ao final da audição, só poderia significar a expressão brasileiramente conhecida citada neste belo (ou nem tanto assim) título desse texto.

Por mais que eles continuem passeando livremente pela musicalidade exacerbada que edifica sua música, a banda conseguiu, em apenas quatro canções, causar aquela sensação de deslumbre misturada com endorfina pra quem ouve em volume máximo.

É impossível não se impressionar com o prog/jazz/fusion/funk que se intercalam pelas canções, fazendo as faixas serem viagens impossíveis de se prever o final.
Plague Accommodations é mais uma daquelas obras de arte que foram construídas durante a pandemia e que, certamente, serão reverenciadas nesse futuro incerto para o qual todos estamos nos direcionando.

É um EP que PQP.

Ouça aqui


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana