Newsletter – Silêncio no Estúdio Vol. 128

03  de janeiro  de 2022


Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. A newsletter desta semana é especial apenas com clássicos que se destacam na discoteca dos nossos colaboradores. Muita coisa velha, outras nem tanto, mas sempre com algo em comum: aquele “gostinho” de clássico. Discos que não saem da nossa cabeça e dos nossos corações, independente da época em que foram lançados!


IT’S A CLASSIC

Por Bruno Leo Ribeiro

PRA COMEÇAR O ANO FELIZ

No famoso dia 7 de maio (meu aniversário e do Brunno Lopez antes mesmo da gente nascer) de 1968, a grandiosa Aretha Franklin fez um show antológico que felizmente foi captado pra ficar eternamente registrado a imensidão dessa Rainha do Soul.

O Aretha In Paris é um disco primoroso, recomendado pelo meu amigo André Kassu e tive que caçar pra ter uma cópia e consegui. O disco já começa arrebentando com “(I Can’t Get No) Satisfaction” dos Rolling Stones e como toda música cantada pela Aretha, ela rouba a música pra ela e faz aqui talvez a versão definitiva.

Foi assim com Respect do Otis Redding e foi assim durante toda a sua carreira. “Chain Of Fools”, “Baby, I Love You” e “(You Make Me Feel Like) A Natural Woman” da Carole King, são alguns dos clássicos absolutos desse disco maravilhoso.

Geralmente gosto mais de discos de estúdio do que discos ao vivo, mas alguns desses são quase um greatest hits somando a energia mais pura dos artistas e bandas. O Aretha in Paris é um desses ao vivo que amo. Foi com ele que passei os últimos dias do ano pra ter um final de 2021 com mais gentileza e leveza. A voz da Aretha me leva pra um lugar muito bonito e nada melhor que começar com esse clássico pra 2022 ser mais leve e gentil com todos nós. Feliz 2022.

Ouça aqui o Aretha in Paris


Por Vinícius Cabral

O FRAMEWORK

Como nós já estamos cansados de comentar, a obra dos Beatles praticamente não carece mais de nenhum tipo de cobertura. Todas as gravações, demos, takes alternativos, documentários e o que mais a gente consiga imaginar, já foi revelado a respeito da banda. Tanto que fica difícil afastar um pouco os aparatos e notas de rodapé para ouvir, como se fosse pela primeira vez, um disco da banda.

O único disco que consegue me transportar diretamente ao sentimento da primeira audição é o Álbum Branco. Talvez por se tratar de um disco processual. Sem querer, os Beatles, além de ajudarem a inaugurar a ideia de “álbum conceito” com o Sgt. Peppers, também ajudaram a inaugurar – ainda que acidentalmente –  a ideia dos álbuns processuais. Uma categoria que costumo apontar como absolutamente atual (se for de fato uma categoria). Claro que o exemplar mais perfeito desse tipo de álbum é o nunca acabado SMiLE dos Beach Boys, mas com uma enorme diferença: este não chegou a ser lançado, nem como um trabalho processual. Fomos acessando seus fragmentos até, em 2011, uma edição mais ou menos definitiva indicar o mais próximo do que a obra poderia ter sido.

O Álbum Branco, mesmo aparentemente inacabado, chega a proporcionar um conjunto. E é impressionante como a liberdade dos caminhos acessados aqui (mesmo em canções praticamente demo como Honey Pie, ou Why Don’t We Do It In The Road) apontam para caminhos que seriam profundamente copiados e perseguidos por bandas das mais variadas nas décadas seguintes. Certamente, esse aspecto inacabado de boa parte da obra, lançado em uma tracklist ousada e extensa, era o mais próximo de “caseiro” ou lofi que a banda de Liverpool poderia chegar dentro de uma gravadora enorme, e com todo o aparato técnico por trás. E é aí que podemos ir catando as referências de tantas outras coisas, anunciadas em canções totalmente acústicas, como Blackbird ou Mother Nature’s Son (em bandas como Wilco, Elliot Smith e tantos outros), ou em canções diretas e “pesadas”, como Glass Onion e Sexy Sadie (Radiohead, ou até mesmo Pixies e Nirvana). Poderíamos pegar cada uma das faixas icônicas desse disco e associá-las a bandas mais recentes, sem nenhum esforço. Embora eu relute em dizer que Helter Skelter inaugurou o Heavy Metal (eu acho que as bases do gênero já estavam bem desenvolvidas em outros grupos), é inegável que as faixas espalhadas pelo álbum branco parecem ter servido de framework para muita coisa.

E é por aí que eu associo, a cada audição que faço deste clássico, os sentimentos originais que ele me despertou, quando eu tinha lá meus 16 anos. Lembro vividamente da sensação de descoberta. Da felicidade de encontrar, finalmente, uma “origem” para os sons e progressões estranhas que sempre me encantavam naquilo que eu chamo de indie rock. Basta passar pelas esquisitíssimas (e geniais) Everybody´s Got Something To Hide Except For Me And My Monkey e Happiness Is A Warm Gun para que eu me lembre daquele despertar adolescente para algo novo. O rock podia ser experimental, sem deixar de ser cativante…os Beatles me ensinaram (e continuam me ensinando) esta lição.

Ouça a versão remasterizada de 2009 aqui


Por Márcio Viana

FÚRIA DE TITÃS

Passada uma semana da reflexão que fiz sobre o lançamento mais recente dos Titãs, o EP de remixes, resolvi que iria continuar revisitando a carreira do grupo, até para entender um pouco mais sobre a capacidade da banda em se reinventar.

Tenho um certo apreço por discos lançados após uma ruptura. Talvez por isso não me incomode tanto mudanças de formação em bandas clássicas. Pelo contrário: acho até que o surgimento de novos envolvidos acaba por revigorar uma carreira.

O clássico que escolhi, Titanomaquia, começa para mim no disco imediatamente anterior, Tudo Ao Mesmo Tempo Agora, em que a banda rompeu com o habitual produtor Liminha (que vinha trabalhando com a banda desde o terceiro disco, Cabeça Dinossauro, até Õ Blesq Blom) e produziu a 16 mãos um álbum com letras minimalistas (algumas exageradamente escatológicas e bobas) e sonoridade crua como de uma gravação caseira, embora profissional. Curiosamente, o disco com letras mais próximas da poesia concreta escrita por Arnaldo Antunes foi também seu último com a banda, da qual saiu para se dedicar à carreira solo em 1992.

Com a ausência do integrante mais erudito e com o estranhamento causado por um disco um disco, digamos… rústico, foi necessário repensar sobre os rumos a seguir.

Depois de uma tentativa de trazer o incensado produtor de Nevermind, do Nirvana, Butch Vig, o grupo acabou encontrando no responsável pelo disco anterior, Bleach, o nome que precisavam para o novo salto: Jack Endino começaria ali sua relação com o Brasil.

O ano era 1993 e o grunge estava em alta. Mesmo assim, ainda que o disco tenha muitos sons distorcidos, eu não diria que Titanomaquia é um disco grunge. Na verdade, o que o difere de seu antecessor é o cuidado de Endino com os timbres e também os títulos bastante inspirados de canções como Taxidermia, A Verdadeira Mary Poppins, Nem Sempre Se Pode Ser Deus ou Disneylândia.

Acompanhei bastante a banda por essa época, e me lembro que o disco não foi bem recebido pela crítica, rendendo uma famigerada crítica de André Barcinski na revista Bizz, que em um texto que simulava uma conversa entre os integrantes, classificava o disco como forjado para entrar em uma onda. Confesso que naquele momento eu até achei mesmo forçado pela banda, mas tenho que dizer que o álbum envelheceu bem. Aliás, a tal crítica rendeu um incidente: em um show promovido pela revista, o público foi incentivado pela banda a rasgar os exemplares de cortesia distribuídos na entrada.

Dito isso, revelo: eu nunca tinha ouvido este disco inteiro até semana passada, e agora que ouvi, acho que ele tem uma sequência de músicas que funcionam muito bem entre si. E talvez seja por isso que é possível chamá-lo de clássico.

Depois de uma parada para dedicação a trabalhos paralelos, a banda se reuniu novamente com Jack Endino para a gravação do álbum Domingo, avançando na parceria e incentivada pelo produtor a voltar a investir numa sonoridade mais pop, sem tanta distorção. O resto é história.

Ouça Titanomaquia


Por Brunno Lopez

O CHORO DOS GOLFINHOS

1999 é um ano mágico e talvez vejamos isso ainda mais a fundo nessa temporada do SNE (spoilers?), mas por enquanto vale apenas o registro brilhante do quarto álbum de estúdio do Live.

Em The Distance to Here, os músicos da Pensilvânia apresentaram um frescor para o rock alternativo da época, com o destaque supremo para o single que dá nome ao título desse texto.

Apenas The Douphin’s Cry já garante a potência de todo o disco, inclusive com um clipe interessantíssimo que fazia a gente ficar por longas horas na MTV esperando ele aparecer.

Não à toa, estreou em quarto na Billboard 200 e ajudou a banda a se consolidar num período cheio de lançamentos efervescentes. Porém, quem é Live sempre aparece.

Ouça aqui


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana