Newsletter – Silêncio no Estúdio Vol. 136

28  de fevereiro de 2022


Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. A newsletter desta semana é especial apenas com clássicos que se destacam na discoteca dos nossos colaboradores. Muita coisa velha, outras nem tanto, mas sempre com algo em comum: aquele “gostinho” de clássico. Discos que não saem da nossa cabeça e dos nossos corações, independente da época em que foram lançados!


IT’S A CLASSIC

Por Bruno Leo Ribeiro

EUTANÁSIA DA JUVENTUDE

O Dave Mustaine do Megadeth é um dos caras mais chatos do Heavy Metal, mas ele é daqueles chatos que a gente gosta. Com a formação mais “clássica” com ele no vocal e guitarra, Dave Ellefson no baixo, Nick Menza na bateria e Marty Friedman na guitarra solo, a banda lançou 4 discos de alto nível (pra mim a melhor sequência da banda). 

Do Rust in Peace de 1990 até o Cryptic Writings de 1997, a banda fez o melhor que poderia fazer, depois a banda me desinteressou um pouco. Mas o melhor da banda fica com a trilogia Rust In Peace, Countdown to Extinction e Youthanasia. Desses 3, pra mim, o melhor é o Youthanasia.

O que automaticamente torna o Youthanasia no meu disco favorito e, o melhor disco da banda na minha sempre opinião clubista.

O Rust in Peace é um discáço também, mas tem uma pegada mais Thrash Metal com aquela velocidade característica do Megadeth e o hino Holy Wars, o Countdown to Extinction é um belo disco transitório com talvez maior clássico da banda, Symphony of Destruction, mas o Youthanasia fez a banda mais “Prog”, mais acessível e mais criativa. 

Todas as músicas são muito versáteis e criativas e com muitas melodias bonitas. A balada “A Tout le Monde” e a belíssima “Elysian Fields”, mostram que mesmo tendo a voz limitada, o Dave pode criar melodias memoráveis. “Reckoning Day”, “Train of Consequences” e “Victory”, mostram que a banda também pode ser pesada, complexa e criativa.

Os discos clássicos são aqueles que não envelhecem mal. São os discos que você escuta 28 anos depois e ele ainda soa bem e dá vontade de ouvir em loop o dia inteiro. E o Youthanasia é desses clássicos que fico muito tempo sem ouvir, mas quando dou play, eu quero ouvir o dia inteiro. Só vai.

Ouça aqui o clássico Youthanasia


Por Vinícius Cabral

O HÍBRIDO ISLANDÊS

“Eu acho que todos nós ficamos um pouco invejosos sobre como a Björk foi capaz de reinventar a música”. As palavras são de Ed O´Brien, guitarrista do Radiohead, que confessou a influência da gênia islandesa na mudança de som que a banda empreendeu em Kid A. Thom Yorke também prestou seu  tributo, ao dizer que Unravel, terceira faixa deste Homogenic, é “uma das músicas mais bonitas que eu já ouvi”

A chancela é significativa e resume perfeitamente o impacto de Björk. Mas ainda não explica a inovação inquieta (e inquietante) de Homogenic. Em seu álbum mais … (perdoem, mas é isso mesmo) homogêneo até então, a artista consolida de uma forma muito coesa a potência de sua invenção estética. Junta passado e futuro da música eletrônica (ouçam o 808 da faixa de abertura, Hunter, e me digam, sinceramente, se não parece algo que A.G Cook lançaria hoje) com um rebuscamento melódico inacreditável. Isso tudo adornado pelas harmonias luxuosas, arranjadas por Björk e pelo brasileiro Eumir Deodato, que conduziu o Octeto de Cordas Islandês que performa no disco. Björk junta Mark Bell (uma das referências do eletrônico experimental da época, à frente do duo LFO) com o talento reconhecidíssimo de Deodato, com suas próprias melodias, dinâmicas e vivas, em uma síntese jamais vista. 

Isto é o que se ouve com destaque no single Jóga. A música, com seu refrão quebrado (State oooof emergency … ) resume a síntese descrita, e nos prepara para a jornada inacreditável de um disco que, dia sim dia também, me supreende por ter sido feito em 1997. O álbum segue com destaques impressionantes, como Bachelorette, ou Alarm Call, mas é nas últimas duas faixas que Björk enterra de vez qualquer convicção pré-estabelecida por parte dos ouvintes. Pluto, a penúltima, é um techno nervoso, que tocaria facilmente em qualquer festa atual (como nas Masterplano, aqui de BH), enquanto All Is Full Of Love nos aproxima da própria artista em um exercício intimista. A voz dela parece mais próxima, sem filtros e tratamento (bastante crua, mesmo, como em um registro ao vivo), construindo um ambiente a um só tempo etéreo e material, futurista e nostálgico. 

Björk junta passado e futuro, tornando-se um híbrido que, como a capa do disco ilustra, desafia territorialidades e aparatos culturais tradicionais. É cyber-artesanal. Acústico e (pesadamente) eletrônico. É um disco de 1997, e de 2022. Não chega a ser à frente de seu tempo, porque manipula o tempo, até que não façamos mais a menor ideia de porquê decidir datar algo que nasceu para ser eterno.     

Ouça Homogenic aqui


Por Márcio Viana

AMOR QUE NÃO SE MEDE

Quando se fala em rock psicodélico, o grande clichê é citar a influência de Sgt. Peppers dos Beatles, muitas vezes The Piper at The Gates of Dawn do Pink Floyd, também é lembrado o Jefferson Airplane ou os Byrds. Mas o grande ícone da psicodelia, sem nenhum erro, é o Love. 

Formada em 1965 por Arthur Lee, guitarrista, vocalista e líder do grupo, junto de Bryan MacLean, também guitarrista e compositor, e cercado de outros músicos e mudanças de formação, a banda lançou seus dois primeiros discos, Love e Da Capo no ano seguinte, e ainda que tenham firmado suas raízes e intenções neles, foi no terceiro álbum, Forever Changes, de 1967, que a banda disse a que veio.

A esta altura, o clima na banda era de tensão e desorganização, por conta de desentendimentos e pelo uso descontrolado de drogas pelos integrantes. Tanto é que a banda original se dissolveu a partir dali, com Arthur Lee levando-a à frente por mais um tempo com outros músicos.

Nada disso, no entanto, tira o brilho deste álbum, já a partir da abertura com Alone Again Or, composta por Bryan MacLean, grande clássico com arranjos memoráveis que juntam psicodelia com violão flamenco e folk.

O folk, aliás, toma conta da maioria dos arranjos, com a adição de cordas e sopros, tornando tudo apoteótico. O disco todo tem um caráter de experimentação em termos de harmonias e melodias, saindo do tradicional.

Não à toa, quando pensamos em bandas que despontaram entre os anos 80 e 90, como Stone Roses, Primal Scream ou Teenage Fanclub, é possível identificar a influência do Love em seu som.

Quase no final do disco, a surpresa fica por conta de Bummer in the Summer, meio Dylan, meio Hendrix, um vocal quase falado que pode ser visto como um precursor do hip hop, ou pelo menos dos sons que depois o originaram.

É muito interessante a percepção de que os violões comandam os arranjos do disco como um todo, fazendo a cama para as letras que, a despeito do nome da banda, abordam muito mais que temas românticos, versando sobre a condição humana e a situação do planeta. Afinal, eram os anos 60, havia a Guerra do Vietnã e Lee começava a se sentir deprimido e até paranóico com tudo aquilo, levando para as canções toda a sua angústia.

O disco é indispensável para se entender a segunda metade dos anos 1960 e as mudanças sofridas pelo mundo a partir de então. Estas, como foi muito bem sintetizado no título do disco, são para sempre.

Ouça Forever Changes


Por Brunno Lopez

DEAD LETTERS

 Um clássico com hit mundial que, para o bem ou para o mal, sentenciou a banda finlandesa a ser quase o grupo de um sucesso único.

Só que não. Muito longe disso. “In The Shadows” tem seus méritos de alavancagem do quarteto de Helsinki mas não representa a grandiosidade musical que o Dead Letters carrega.

Não por acaso, esse foi o disco que abriu meu coração para tudo que eles fizeram antes e depois. “First Day Of My Life” é uma aula de como abrir um álbum com peso, intensidade e melodia. Ah, as melodias. The Rasmus é uma das bandas que mais sabem construir canções penetrantes, sem precisar apelar para um refrão catchy. Eles conseguem fazer isso nos versos e pontes, deixando todas as partes das músicas marcantes.

Enfim, enquanto escrevo sobre um disco de 2003, estou comemorando que uma música de 2022, desses mesmos caras feat. Desmond Child, será a representante da Finlândia no Eurovision desse ano.

Agora, além de “In The Shadows”, eles também serão a banda de “Jezebel”. Mas no fundo, todos nós sabemos que eles são muito mais do que isso.

Ouça aqui


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana