Newsletter – Silêncio no Estúdio Vol. 140

28  de março de 2022


Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. A newsletter desta semana é especial apenas com clássicos que se destacam na discoteca dos nossos colaboradores. Muita coisa velha, outras nem tanto, mas sempre com algo em comum: aquele “gostinho” de clássico. Discos que não saem da nossa cabeça e dos nossos corações, independente da época em que foram lançados!


IT’S A CLASSIC

Por Bruno Leo Ribeiro

LIGADOS PELO SANGUE

Aquecendo pro episódio de Geografia Musical sobre a Baía de San Francisco que sai essa semana, ouvi muito dos discos das bandas que cito no episódio e tenho certeza que muitas delas, você não sabia que era de lá.

Uma das bandas bastante conhecidas e que foi de suma importância para o movimento do Thrash Metal da região foi o Exodus. 

Formada em 1979 pela molecada que estava ainda aprendendo o que era heavy metal, a banda que contava com o Kirk Hammet, hoje no Metallica, se juntou ao lendário vocalista Paul Baloff. Já sem o Kirk, alguns anos depois, o Exodus fez o seu melhor disco logo na estreia.

O Bonded By Blood lançado em 1984, foi um dos discos mais importantes pra consolidação do que era o som do Thrash Metal e também do seu movimento.

É um disco meio tosco, mal gravado e mixado (a capa também é horrível), mas só faz sentido desse jeito. Exodus muito polido não é bom. E é isso que faz esse disco tão clássico para todos os metaleiros que gostam de Thrash Metal.

Está no mesmo nível do Kill’Em All do Metallica ou do Show do Mercy do Slayer.

Pena que a banda sempre foi vista como uma banda ainda underground dentro do movimento, mas está no coração de todo mundo que gosta do estilo. O Exodus ajudou a começar uma coisa que mudou o mundo da música e eles estão pra sempre tatuados na pele do “Rock Pauleira”. Só tome cuidado pra não ouvir demais, pra não ficar com vontade de acabar com a raça dos metaleiros posers. Viva o Exodus! 🙂

Ouça aqui


Por Vinícius Cabral

PELAS ESQUINAS DE BELO HORIZONTE

Eu sempre evitei trazer este álbum por aqui porque … bom, porque tem tanto a ser dito, que a gente acaba falando o óbvio, ou se estendendo demais em digressões emotivas. Sempre me faltou um gancho para contextualizar o processo de falar do Clube da Esquina (o que, por si só, já é uma categoria própria).

Pois semana passada um gancho se impôs: rolou em uma nova sala de cinema de BH uma mostra de cinema chamada “Mais fundo que o mar”. o conceito central da curadoria foi a relação (mais intensa do que eu imaginava) entre o Clube da Esquina (o “movimento”, não apenas o álbum), e o cinema. Só para começar,  acontece que, certo dia, Milton Nascimento e Márcio Borges assistiram 3 vezes Jules et Jim, de Truffaut, no saudoso Cine Tupi. A BH dos anos 60 já respirava cinema e arte, e pode-se dizer que nas esquinas da minha querida cidade, as experimentações dos Beatles encontraram-se com as invenções da Nouvelle Vague francesa com desenvoltura. Essa efervescência fez nascer, obviamente, uma cena cinematográfica em torno da cidade, mas foi através da música que essa geração de jovens mineiros arrebentou as fronteiras (rodeadas de Brasil) do maravilhoso estado de Minas Gerais.

E este álbum, que completa seus 50 anos em 2022, se transforma em documento histórico e centro gravitacional de todo este processo. Além de ser, obviamente, um dos maiores representantes da música brasileira internacionalmente – lembrem-se que a poderosa Pitchfork fez um review bastante interessante sobre o disco, premiando-o com um 9.5. É claro que nenhuma nota consegue exprimir com exatidão o tamanho desse disco. Histórico, criativo, inovador. Um trabalho que cruza cinema, poesia, arte, rock, flamenco, congado (entre muitas outras referências e gêneros, musicais ou não) com o senso de urgência de uma geração inspirada (e inspiradora). 

É musicalmente, claro, que o disco nos pega. Como um amigo meu bem definiu, Clube da Esquina trafega entre cantos quase que religiosos para vovós carolas e rock psicodélico para jovens doidões. Ainda que eu prefira a segunda tendência, é inegável que neste álbum as vertentes se cruzam de forma definitiva. Prova cabal disso está em Clube da Esquina nº 2, uma canção que nos entrega um dos instrumentais mais perfeitos da história do rock nacional, enquanto Milton solfeja em falsetes a melodia, em tons angelicais. Uma síntese perfeita, que será expandida depois no Matança do Porco, com o Som Imaginário, pelas melodias antológicas de Wagner Tiso. Ainda no Clube, vale destacar que trata-se do álbum-manifesto que conta com praticamente toda a “gangue mineira”: Lô, Milton, Márcio Borges, Ronaldo Bastos, Fernando Brant, Beto Guedes (tocando praticamente todos os baixos), Tavito, Toninho Horta. O disco também conta com as figurinhas carimbadas Luiz Alves e Robertinho Silva (cozinha do Som Imaginário), Eumir Deodato com arranjo em três faixas … há até lugar para o Gonzaguinha, que faz backing vocals na canção Estrela

As idas e vindas da melodia de Cais (que se repete mais à frente no disco, em Um Gosto de Sol) dão ao álbum essa ”aura SMiLE” de obra processual, catalogadora … uma folha em sobrevôo por montanhas reais e imaginárias. A maior obra-prima do rock nacional?

Hoje falo com orgulho que o Clube da Esquina, assinado por Milton Nascimento e Lô Borges, é um dos maiores patrimônios que Minas Gerais deixou para o Brasil e para o mundo. Uma obra musical impecável, de extensões e associações infinitas. 

Minas é coisa demais.

Ouça Clube da Esquina aqui 


Por Márcio Viana

DEIXA ACONTECER NATURALMENTE

Entre as bandas que formam a pedra fundamental do rock alternativo, talvez a menos comentada no meio mainstream seja o The Replacements, apesar da inegável influência que exerceram em tudo que viria depois, em termos não só musicais, mas de estilo. Let it Be, o terceiro disco do grupo, lançado em 1984, deve ser o maior expoente desta influência, uma vez que nele a banda descasca um pouco o verniz de punk rock dos dois álbuns anteriores, e traz um repertório sonoramente mais versátil, mas ainda com muito daquela energia.

Nisso tudo, cabe citar por exemplo Androgynous, música de voz e piano, com acordes tortos e final intencionalmente displicente, como que pra deixar subentendida a adaptação a uma nova sonoridade, vide também a introdução com violão de 12 cordas em Unsatisfied.

Inevitável mencionar a participação de Peter Buck, do R.E.M., que quase produziu o disco, mas teve problemas de agenda. É dele o solo de guitarra em I Will Dare.

Tudo no disco é deliciosamente despretensioso, ao mesmo tempo em que tem um conjunto de canções coesas. A edição deluxe traz alguns outtakes que reforçam ainda mais essa sensação.

Já no quesito rolê aleatório, depois do fim do grupo o baixista Tommy Stinson passou a ser um dos integrantes mais longevos das formações inusitadas do Guns n’ Roses, permanecendo no grupo de 1998 a 2016, quando Duff McKagan retomou seu posto. Sendo assim, suas linhas de baixo podem ser ouvidas em Chinese Democracy.

Ouça Let it Be (expanded version)


Por Brunno Lopez

GENERATOR

As grandes pessoas nos marcam em situações puramente aleatórias. Dificilmente nos vemos diante de um script bem escrito e ensaiado, com tudo no seu devido lugar pulsando harmonia irretocável. E foi assim, com um vídeo enviado de uma apresentação para a divulgação do disco “There’s Nothing Left To Lose”, na Austrália, que me deparei efetivamente com o baterista Taylor Hawkins em ação.
Eu tocava numa banda de covers e faríamos uma sessão especial tocando apenas músicas de 3 bandas: uma delas era o Foo Fighters.

Como baterista, sempre tirei músicas de ouvido pois demorei muito pra poder ganhar uma bateria de verdade. Mas, por alguma razão, eu quis assistir a performance dessa música. E esse vídeo do Taylor em “Generator” é de uma energia devastadora que contagia de forma instantânea. Ser baterista é muito mais do que manter o ritmo certo e realizar viradas que a canção pede. Taylor, além de fazer exatamente tudo isso, transpirava carisma. E enchia as notas de sua baqueta nos tambores com intermináveis sorrisos.

Normalmente, quando se esmurra a bateria com pegada, o semblante não é de alegria e entusiasmo. É totalmente o contrário. Mas Taylor fazia sua intensidade rítmica quase gargalhar de tanta felicidade ao sentar naquele banco tão solitário de uma banda de rock.

Nunca seremos capazes de entender os meandros da vida, por isso, toda oportunidade de ver de perto aqueles que nos inspiram precisa ser aproveitada. Foo Fighters nunca foi um grupo que emocionou a ponto de me tornar fã, mas a performance do Taylor, desde a Alanis, era algo impossível de se ignorar. Alguém grande e genuíno estava ali fazendo mais do que som e mais do que presença: Taylor fazia sentido.

E hoje, faz falta.

Assista aqui


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana