NEWSLETTER SILÊNCIO NO ESTÚDIO VOL. 151

13  de junho de 2022


Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. Na newsletter desta semana nosso time destaca lançamentos que têm feito suas cabeças. 


LANÇAMENTOS

Por Bruno Leo Ribeiro

Nosso querido Bruno está em periodo de mudança e, excepcionalmente, não participa desta edição de nossa newsletter! Em breve ele estará de volta. 


Por Vinícius Cabral

OS OSSOS DA PERIFERIA

Momento desabafo (de novo): vivo um período de desligamento afetivo profundo com a música ocidental, em geral. No início achei que era apenas uma birra, em função da total hibridização que tem tornado tudo … pop demais. Mas não é não. Do que eu ainda chamo (por teimosia, talvez) de alternativo, ao hip-hop, tudo parece nivelado por uma lógica promocional muito agressiva, que interfere nitidamente nas obras. É claro que existem inúmeras exceções que resistem a este quadro de maneira instigante, geralmente não dando a mínima para as construções de imagem – coisa que hoje parece superar o interesse e o cuidado pela própria música. Mas, a partir dos trabalhos novos de artistas como Beach House e Angel Olsen, é possível dizer que mesmo o mais “autoral” dentro do universo que costumo acompanhar nas mídias gringas, já bateu em um teto a algum tempo, ou se desviou totalmente para algo que não é do meu “lugar de fala”. 

Uma das publicações que eu mais acesso, inclusive, a Pitchfork, tem dado um destaque cada vez maior a obras de Country, Soul e pop, forçando a tese ventilada a algum tempo de que o mainstream está cada vez mais autoral, ou alternativo, e que os hibridismos fazem parte deste processo porque “não há mais gêneros”. Só que não existe mainstream alternativo, ainda existem gêneros (por mais que eu tenha defendido o contrário anos atrás) e o efeito anda sendo invertido – vemos cada vez mais bandas pequenas e alternativas adotando linguagens do mainstream, talvez almejando furar as “bolhas” digitais. Há bons exemplos de artistas que, de uma forma ou de outra, entram na lógica de saturação de conteúdo das redes e mantém uma obra experimental e ousada (Nilüfer Yanya vem à mente), mas essa não é definitivamente a regra. Isso tudo sem contar, é claro, nas Rosalia’s e Bad Bunny´s que, envoltos pela mística apaixonante dos hibridismos e da “inovação”, escondem casos de apropriação, ou “licença estética” obtida a partir do uso de linguagens notadamente periféricas. 

Seja como for, é inevitável, diante de um colapso visível, olhar para a periferia para tentar entender como as coisas vão se configurando. Tenho falado bastante da China neste sentido (e o país possui, certamente, uma das cenas mais malucas e consistentes da atualidade), mas é necessário também um giro compreensivo pela América Latina. E há similaridades entre os dois contextos. Em ambos, o alternativo parece ainda não ter se esgotado, por existirem múltiplas formas de incorporar a última grande explosão contracultural do ocidente (o indie noventista) à características regionais, líricas e estéticas. É do universo latino americano que tiro as duas dicas de lançamentos desta edição, a partir de dois singles, curtos, mas bastante representativos do que estou dizendo. 

gorduratrans – Enterro Dos Ossos – não há nada de tipicamente regional aqui. Mas, como sempre digo, o rock brasileiro sempre acha caminhos para métricas especialíssimas e diferentes, rasgando a tradição “quadrada” do gênero em uma “malemolência” bem específica. Esta música tem algo de grunge e shoegaze, misturado a esse “jeitinho” carioca de balançar as canções. É uma das músicas mais potentes que eu ouço no indie nacional há algum tempo, e abre expectativas gigantes para o próximo disco da banda, que sai este ano. 

Magnolia Nojutsu – Periferia – A banda chilena, que lançou seu primeiro EP durante a pandemia, me impressionou sobremaneira com este single. Me parece também uma forma de naturalizar um indie já bastante conhecido por nós, a partir de uma estrutura melódica tipicamente latina. A música e a letra remetem a todo tempo mais às tradições roqueiras argentinas e chilenas do que a referências gringas imediatas. Ou seja, entre outras coisas, ressoa mais Spinetta do que qualquer coisa. Uma pérola de canção. 

Fica sempre o aprendizado, que citei outro dia neste mesmo espaço, vindo da mente genial de Fred 04: 

“O que era velho no norte. Se torna novo no sul”.  

Ouça gorduratrans – Enterro dos Ossos aqui

Ouça Magnolia Nojutsu – Periferia aqui


Por Márcio Viana

A RESSURREIÇÃO 

Há cerca de 50 anos, Declan McManus e Allan Mayes tocavam em uma banda de Liverpool chamada Rusty. Com temas originais e releituras de canções de Neil Young, Bob Dylan e outros, o grupo se apresentava cerca de cinco a seis vezes em pubs da cidade.

Eis que em 2022, McManus, hoje conhecido pelo nome artístico de Elvis Costello, se reencontra com o velho parceiro Mayes, hoje morador do Texas, e lança o EP The Ressurrection of Rust, para dar materialização a uma imaginada possibilidade de mostrar como soariam as canções do Rusty. É um disco de duração curta, apenas 24 minutos, com temas originais e covers como Everybory Knows This is Nowhere, canção de Neil Young que encerra o EP, emendada com Dance Dance Dance.

O que esperar de The Ressurrection of Rust, gravado pela dupla com o apoio do The Imposters, a banda que acompanha Elvis Costello? Nada de novo, como se pode imaginar, pelo contexto que se apresenta ao se lançar músicas dos anos 70 gravadas somente agora, com grande qualidade de som. E não ter novidades é o melhor que poderia acontecer neste caso. Vale o play.

Ouça The Ressurrection of Rust aqui

 


Por Brunno Lopez

RISE

Loucura, correria, tempos líquidos, relógios velocistas, 24 horas que parecem 8: em cotidianos de insanidade contemporânea – ou apenas uma pintura de realismo capitalista – qualquer segundo passado na companhia de um lugar seguro é obrigatório.

Meu ‘safe place’ é a banda finlandesa The Rasmus que, após representarem o país no Eurovision com o estrondoso single “Jezebel”, anunciaram mais uma canção inédita na sexta-feira. 

“Rise” veio como um sopro de otimismo, escondendo o caos da atualidade em três minutos e cinquenta segundos. É o abraço inédito que precisava para esperar o álbum completo – e a segunda-feira – chegarem.

Ouça aqui

 


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana