20 de junho de 2022
Bom dia, boa tarde e boa noite queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio. A newsletter desta semana é especial apenas com clássicos que se destacam na discoteca dos nossos colaboradores. Muita coisa velha, outras nem tanto, mas sempre com algo em comum: aquele “gostinho” de clássico. Discos que não saem da nossa cabeça e dos nossos corações, independente da época em que foram lançados!
IT’S A CLASSIC
Por Bruno Leo Ribeiro
SOMOS TODOS
O tempo está corrido com toda a mudança, mas deu pra ouvir um super clássico pra animar nesses tempos de loucura.
Andei olhando os trabalhos do percussionista Paulinho da Costa e vi que ele participou do disco I Am do Earth, Wind and Fire e fui dar play no disco e animou os meus primeiros dias na Bay Area.
Fica aqui a dica pra quem curte um groove sensacional e muita animação pra começar bem a semana.
Por Vinícius Cabral
EU NÃO SEI DIZER … ENTÃO EU ESCUTO
É muito difícil escrever objetivamente sobre um clássico deste tamanho, ainda mais em um momento de revisão crítica da música brasileira. Uma das formas de pensamento crítico mais efetivas que aprendi com a semiótica, podem ajudar, porém, a trazer um panorama geral satisfatório. É simples: parte-se de uma premissa, que geralmente manifesta um senso comum, para desmembrar a maior quantidade possível de elementos do fenômeno, e testar na realidade (com comparações e outros métodos) a validade (ou a não-validade) da premissa. A premissa será curta e grossa:
Secos & Molhados I é um dos maiores e mais completos documentos históricos do rock nacional.
Alguns elementos do fenômeno:
Trata-se de um disco que, por mesclar um rock quase tradicional, clássico, com pitadas de prog-rock, elementos acústicos, flautas, percussões e arranjos extremamente sofisticados e modernos – até hoje – destoa de tudo o que tinha sido ouvido na música brasileira até então. Apesar de, paradoxalmente, se aproximar de tendências nítidas, de um lado, da chamada MPB, e de outro, do prog–rock nacional.
O conjunto harmônico e instrumental arrojado e diverso não ofusca, porém, a qualidade lírica da obra. Com um acento poético altamente modernista, flertando com a poesia concreta, o disco traz temas de Cassiano Ricardo (Prece Cósmica, As Andorinhas), Manuel Bandeira (Rondo do Capitão) e Vinícius de Moraes (em Rosa De Hiroshima, um dos maiores hinos anti-guerra da história do rock mundial). Isso sem contar na letra antológica de Sangue Latino, a cargo do roteirista e autor Paulinho Mendonça.
À exceção de Rosa De Hiroshima, musicada por Gerson Conrad, as demais letras são musicadas magistralmente pelo genial João Ricardo. O compositor e violonista portugês, radicado no Brasil desde 1964, apresenta aqui um dos melhores conjuntos melódicos já ouvidos em nosso cancioneiro. Canções como Assim Assado e Fala demonstram o apuro estético sofisticadíssimo do compositor.
Nada disso teria corpo, certamente, sem a performance precisa, inovadora e inesquecível de Ney Matogrosso. O cantor dá vida às canções de forma absolutamente única. Inimitável, eu diria. Mesmo que vá se destacar depois, com imensos louros, em uma longuíssima carreira solo, esta é a colaboração estética mais inacreditável de Ney para o rock nacional. E, apesar disso já ser dito por algumas pessoas, nunca é demais reforçar: Ney Matogrosso é um intérprete de rock! Dos melhores que já vimos no Brasil e no mundo.
Toda a provocação e ineditismo das performances registrada em disco, extrapola, e muito, o fenômeno fonográfico. Nos “anos de chumbo”, em pleno 1973, Secos & Molhados viraram o Brasil de ponta cabeça com suas fantasias andrógenas provocadoras (gringos imitaram depois, isso é certo), registrando recordes de vendas de discos.
Os elementos musicais aqui são realmente fora da curva. O disco soa completo porque, além de explorar vertentes estéticas que vão do rock tradicional, ao folk, passando por elementos típicos da música brasileira (em percussões, flautas e violões de 12 cordas emulando guitarras, por exemplo), tudo é executado com maestria por um conjunto de músicos iluminados. Os baixos do virtualmente desconhecido Willi Verdaguer, argentino que depois vai tocar na banda de Guilherme Arantes, são inesquecíveis, com destaques para as linhas de Sangue Latino (o pontapé inicial do disco já é uma linha de baixo histórica) e Amor. As guitarras do também desconhecido John Flavin (também estrangeiro, inglês, radicado no Brasil) pontuam brilhantemente algumas canções, como O Vira (com aqueles solos inesquecíveis em fuzz) e Assim Assado (onde a guitarra dialoga com a linha de baixo decrescente, formando a cozinha perfeita para a voz de Ney “deslizar”). Os violões de 6 e 12 cordas, tocados por Gerson Conrad e João Ricardo, harmonizam tudo brilhantemente. João Ricardo e Gerson também fazem vocais e backing vocals em vários momentos do disco. Para completar, temos aqui a participação flagrante de outro gênio do rock nacional: Zé Rodrix, que faz o arranjo da perfeita Fala, e toca sintetizadores e ocarina no disco.
É em Fala, aliás, que a síntese que o disco propõe parece se concatenar com maior clareza. A música tem as tradicionais “quebradas” prog, que preparam para os versos, cantados de forma lânguida e sentimental por Ney Matogrosso (“Eu não sei dizer / nada por dizer / então eu escuto”). A letra é um show à parte, e complementa a performance de Ney. Como quem não quer nada, Rodrix ainda mete um solo de sintetizador na segunda parte, confirmando a vocação moderna e inovadora do álbum.
Por estes detalhes, e muitos outros que não menciono por falta de espaço, acredito que se confirma a validade da premissa. Este álbum é, realmente, tudo o que todo mundo fala (e talvez mais um pouco).
Por Márcio Viana
BATE, CORAÇÃO
No nosso episódio sobre o ano de 1984, questionamos e concluímos que este foi provavelmente o melhor ano daquela época para a música pop mundial. Há muitos exemplos que confirmam esta tese, e um deles é certamente Heartbeat City, quinto álbum do grupo norte-americano The Cars.
Quando se pensa no grupo, a primeira lembrança de muitos é pelo hit Drive, que está neste disco, e é claro que ele é importantíssimo, afinal é o maior sucesso deles e da década como um todo. A canção, aliás, é interpretada pelo baixista Benjamin Orr, o que já faz a diferença, já que a maioria das músicas era cantada por Ric Ocasek, líder e principal compositor da banda.
Mas Heartbeat City é bem maior do que isso. Feito por uma banda já estabelecida, rompe com alguns padrões ao ter como produtor Robert John “Mutt” Lange, famoso pelos trabalhos com o AC/DC em Back in Black e Highway to Hell, além de ter produzido Pyromania, icônico álbum do Def Leppard. É possível de se pensar que a experiência com o rock de arena adquirido por Lange nestes trabalhos tenha trazido ao som dos Cars algum brilho maior, a ponto de o álbum ter emplacado vários singles em paradas de sucessos (Drive foi o terceiro a ser lançado, precedido por You Might Think e Magic, e depois sucedido pela faixa de abertura do álbum, Hello Again e por Why Can’t I Have You).
O que se ouve em Heartbeat City é, portanto, além de uma coleção de pérolas pop, um trabalho bastante influente. Basta pensarmos no quanto o Weezer dos primeiros discos bebe desta fonte, a ponto de terem Ric Ocasek como produtor.
Pensando na conjunção que permite a ascensão de alguns álbuns clássicos, há que se observar que a MTV estava em um momento de ápice de sua existência, e os clipes feitos para os singles do disco foram inseridos e tocados à exaustão na programação.
A banda, registre-se, esteve em atividade até 1988, quando se separou, ensaiando algumas voltas, mas a morte de Benjamin Orr em 2000 frustrou qualquer expectativa (ainda que tenham lançado um álbum em 2011, chamado More Like This). Em 2019, foi Ric Ocasek quem faleceu, encerrando assim qualquer possibilidade de existência dos Cars tal qual os conhecemos.
Por Brunno Lopez
TODA ROSA TEM SEUS ESPINHOS
Um meteoro de Sunset Strip explodia nos ouvidos de todos aqueles que eram obrigados a se render ao Glam Rock e seus apetrechos estéticos coloridos no final dos dourados anos 80. Entre vários grupos da cena de LA, o Poison escalava os degraus do sucesso com o segundo disco da carreira da banda, Open Up and Say… Ahh!
Para a formação de caráter todo fã desse estilo, o material é indispensável. Por mais que todos os ingredientes que se encontram aqui também povoassem os álbuns de outras bandas da época, o Poison conseguiu criar uma identidade própria e, com isso, hits implacáveis e grudentos – como todo Hard Rock implora.
Porém, não foram as canções animadas, com solos alucinantes e refrões estridentes que alcançaram o topo das rádios. Composta pelo vocalista Bret Michaels, o que figurou na posição de número um foi a balada “Every Rose Has Its Thorn”.
Claro, todos os grupos tinham suas músicas mais lentas naquele período, mas essa faixa trouxe a atmosfera necessária para o grupo se sustentar muito bem no tão complicado álbum seguinte ao de estreia.
Talvez soubessem secretamente que rosas fariam sucesso. Ainda mais quando se uniam a armas. Mas isso é outra banda.
Ouça aqui
É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.
Abraços do nosso time!
Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana