Newsletter Silêncio no Estúdio Vol. 188

27  de fevereiro  de 2023


Olá queridos leitores / ouvintes do Silêncio no Estúdio! A newsletter desta semana é especial apenas com clássicos que se destacam na discoteca dos nossos colaboradores. Muita coisa velha, outras nem tanto, mas sempre com algo em comum: aquele “gostinho” de clássico. Discos que não saem da nossa cabeça e dos nossos corações, independente da época em que foram lançados!


IT’S A CLASSIC

Por Bruno Leo Ribeiro

SUBIR PRA RENASCER

2002 foi um ano que expandi e tirei o atraso em muitas coisas na minha vida. Com o advento dos canais de mIRC (referência para pessoas prestes a dar entrada na papelada pra aposentadoria) com a discografia completa pra gente “pegar emprestado” dos amigos da internet, consegui finalmente ouvir a obra completa de vários artistas clássicos que nunca tive acesso. Foi assim com The Who, Prince, Rolling Stones e, claro, Bruce Springsteen. Naquela viagem no tempo, com o Bruce Springsteen ao meu lado no Delorean do Emmett Brown, fui lá pro primeiro disco e fomos andando em ordem cronológica. Aquele catálogo parava no The Ghost of Tom Joad de 1995. 

No Born To Run me apaixonei, no Nebraska fiquei fascinado e no The Ghost of Tom Joad fiquei com expectativas de um disco novo. Logo em seguida, depois de 7 anos sem lançar um disco novo e 18 anos sem gravar com a E Street Band, o Bruce se juntou com o Brendan O’Brien (que produziu Rage Against the Machine, Soundgarden e Pearl Jam) e lançou o The Rising.

Era minha primeira experiência como um novo fã de Bruce Springsteen ouvindo um lançamento e desde então ele só lançou disco acima de nota 8, mas isso é um papo pra outro dia. Quando consegui pegar o The Rising emprestado com meus amigos desconhecidos da internet tudo mudou. Ali virei fã do The Boss em definitivo. Era tudo que ele sempre foi, mas com a modernidade de um Rock de Arena contagiante, emotivo e cheio de mensagem boa. O disco conta com “Lonesome Day”,     “Waitin’ on a Sunny Day”, “Worlds Apart”, “My City of Ruins”, além da faixa título, “The Rising”.

O disco ganhou Grammys, foi indicado pra tudo que é coisa e esse parágrafo técnico é só pra validar, ou não, meu ponto que o disco é maravilhoso. Mas vamos seguir.

A música The Rising é um hino sobre se elevar. Sobre os trabalhadores subindo o WTC no 11 de Setembro pra resgatarem as pessoas. Todo mundo querendo descer e eles subindo pra um resgate que nem eles conseguiriam se salvar. Até pra fazer uma música de orgulho, o Bruce aponta pra realmente quem merece uma homenagem. É uma música emotiva, que te leva para o topo das emoções. É uma música de resgate, com sua visão social importante, que muitas vezes é confundida com uma visão patriótica boba, mas nunca é.

Neste sábado, 25 de fevereiro, fui até Portland no Oregon pra ver o Bruce pela primeira vez na vida. O repertório foi perfeito, mas a música que mais me pegou e me levou pra cima foi quando ele tocou The Rising. Ali voltei pra 2002, imaginando que um dia eu poderia ver o Bruce ao vivo. Cantando essa música e me esgoelando na hora de cantar em coro aquele “La la la lara lara… Lara laaaa. La la la lara laaaa!”. E foi exatamente, 21 anos depois, que minha alma se elevou. Foi até um lugar que nunca tinha ido num show e me mudou. O Bruno Leo Ribeiro que eu conhecia antes do show começar morreu e um novo Bruno renasceu. Pra cima, feliz, chorando e mais emocionado que antes. Meus batimentos cardíacos chegaram no limite de explodir e me levar pro hospital, mas sobrevivi. Foi uma experiência de pós vida. Mas não vi uma luz branca, vi apenas aquele senhor de 73 anos de idade e seus amigos de banda. Todos em suas idades elevadas e tocando como jovens e com alegria. Entregando tudo em apenas mais um dos shows da turnê. Porque se é pra ir a um show, que seja pra ir pro céu e esquecer do mundo e nos transformar. Com o The Rising sendo cantado por todo aquele estádio, nada seria mais o mesmo. Ainda bem.

Ouça aqui o The Rising


Por Vinícius Cabral

A RUÍNA GLORIOSA DE HANNA

Kathleen Hanna é uma das figuras mais importantes da história do rock. E aí vai uma longa lista de porquês. Frontwoman de bandas como Bikini Kill, Le Tigre e The Julie Ruin, o símbolo punk-feminista exacerbou os limites da cultura do rock independente, sendo uma das precursoras do riot grrrl: zine, movimento anti-capitalista. Contracultura na veia.

Apesar da contemporaneidade estar lotada do discurso que o movimento de Hanna representou (diluído comercialmente em mercadoria e clichês, pra variar e, infelizmente), talvez ainda falte conhecer Hanna, a artista. Me incluo nisso. Foi só ano passado que descobri Julie Ruin, uma verdadeira obra-prima que Hanna esculpiu sozinha em seu quarto em 1998, entre o fim da Bikini Kill e o início da Le Tigre. Julie Ruin, que prenunciava o nome da futura banda da artista, é um álbum do estômago e do coração. Mistura lo fi punk com samples, beats eletrônicos, gritos, poesia, inconformismo e realidade. É, como a própria Hanna diz, “um álbum do meu quarto, para me comunicar com outras garotas, em seus quartos”. Parafraseio livremente para tentar transmitir o espírito informal, mas profundamente urgente, deste disco absurdo.

Da categoria “bedroom lo fi”, talvez seja um dos maiores tesouros ainda escondidos. O único link para a obra disponível na internet (até onde acessamos a internet) é o que posto abaixo, com a tracklist na descrição. Embora algumas letras sejam fáceis de encontrar, a tarefa é quase sempre um pouco árdua. Trata-se, realmente, de uma obra ainda na obscuridade quase completa. O que torna, é claro, o exercício de degustá-la e compartilhá-la ainda mais urgente.

Com canções espetaculares, como Apt. #5 e The Punk Singer (que dá nome ao excelente documentário biográfico de Hanna disponível aqui), o disco grita por trás do ruído das fitas. Ou melhor, Kathleen Hanna grita, para que finalmente o mundo possa escutá-la devidamente. Trata-se de uma bomba de um disco, e apenas uma faceta, diga-se, de uma artista completa, seminal e indispensável para tudo o que vivemos hoje.

Kathleen é um coquetel molotov, apontado para o coração de um sistema corroído que já faz hora extra entre nós.  

*Em tempo: quem não quiser concordar comigo pode ficar com as palavras do Adam Horowitz, o Ad-Rock dos Beastie Boys e maridão de Hanna, sobre o álbum: “it’s a fuckin masterpiece”. Eu confio. Este casal por acaso alguma vez errou na vida?  

Ouça Julie Ruin aqui 


Por Márcio Viana

SUAVE COISA NENHUMA 

Dos três discos lançados pelos integrantes da formação clássica dos Secos e Molhados logo após a separação, este – intitulado apenas João Ricardo e singelamente apelidado de Disco Rosa, a despeito da capa remetendo ao kitsch, é o que mais traz elementos do que poderia ter sido o terceiro disco do grupo.

Isso porque, assim como nos anteriores, a direção musical e as composições do álbum são todas do próprio João Ricardo, algumas em parceria com seu pai, empresário e um dos pivôs da separação do grupo, João Apolinário.

De resto, o disco tem mais uma vez o baixista Willy Werdaguer comandando os arranjos – com direito a uma citação de sua linha de baixo mais famosa, a de Amor – em Balada para um Coiote. E a autorreferência não para por aí, já que Vira Safado soa como uma releitura mais maliciosa de O Vira, parceria de João Ricardo e Luhli, presente no disco de estreia do Secos e Molhados, de 1973.

Se não dá para saber se um disco do grupo soaria desta forma, sabemos que provavelmente não seria como a estreia solo de Ney, em Água do Céu Pássaro, nem como o disco de Gerson Conrad em parceria com Zezé Motta, todos lançados no mesmo ano de 1975, dividindo as atenções, mas nota-se que ambos representaram para seus criadores uma expansão à qual talvez João Ricardo não estivesse disposto, mais interessado em seguir com o legado do grupo, o que o fez a partir de 1978, persistindo com algumas outras formações.

O que temos aqui, portanto, são alguns grandes momentos líricos e musicais (inevitável que o destaque seja o baixo do argentino Willy Verdaguer, mas vale destacar que o guitarrista do disco era ninguém menos que Roberto de Carvalho, posteriormente dono de extensa parceria musical e conjugal com Rita Lee). Destes, vale a menção ao espertíssimo título Os metálicos senhores satânicos, a divertida levada de Se sabe, sabe, e Rock e Role Comigo, canção que recentemente foi encontrada em uma gravação de uma apresentação dos Secos e Molhados em 1974, pouco antes do lançamento do segundo disco e da separação do grupo. O material foi encontrado pelo onipresente pesquisador Marcelo Fróes, que à época (já durante a pandemia) declarou não pensar em buscar meios de lançar oficialmente a gravação. Por aí se nota o tamanho da confusão que isso deve causar ainda hoje.

João Ricardo, o álbum, não está nas plataformas de streaming, mas sempre há uma boa alma que disponibiliza uma versão no YouTube. 

Ouça João Ricardo aqui 


SCENES FROM A REACT

Reacts costumam ser uma forma de sentir a mesma sensação que tivemos pela primeira vez que escutamos tal coisa. Quem me disse isso foi ninguém menos que meu xará Buno Leo Ribeiro e confesso que num primeiro momento fui muito reticente com tal definição. Porém, provavelmente com o vídeo certo e a música certa, essa percepção mudou completamente.

O vídeo em questão veio impactante, justamente sobre uma das canções do meu disco favorito do Dream Theater: ‘Glass Prision’ do 6 Degrees of Inner Turbulence. A forma com que o canal KING KTC absorve todas as infinitas mudanças de tempo e ambiência me fizeram ressuscitar o deslumbre por cada pequeno detalhe dessa música.

Fica aqui o registro imortalizado dessa experiência que recomendo a todos que façam com suas canções favoritas. Obrigado xará!

Assista aqui


É isso pessoal! Espero que tenham gostado dos nossos comentários e dicas.  

Abraços do nosso time!

Bruno Leo Ribeiro, Vinicius Cabral, Brunno Lopez e Márcio Viana