
O combate ao reducionismo do emo de meados dos anos 2000 veio com teatro burlesco, rock cabaré, poesia provocativa e uma espécie de sarau onde as pessoas não sentiam vontade de ir embora nas primeiras rimas.
A febre tinha nome e ponto de exclamação: Panic! At The Disco maquiava a cena fervilhante e rotulada pra baixo com sonoridade revigorante, letras que faziam o sangue correr ao contrário e a sensação extinta de vulnerabilidade imediata numa Los Angeles que podia reconstruir novas glórias com o que restou do glitter hardrockiano.
Tudo isso voltou à tona no último dia 18 de outubro, com a banda regressando de seu fim(?) em 2023 para subir ao palco da quarta edição do festival When We Were Young e revisitando o disco que fez deles um insulto ao pop fabricado e brindava com copos de plástico uma parte bem empolgada do rock alternativo.
A Fever You Can’t Sweat Out é uma assinatura difícil de entender mas deliciosa de tentar copiar de 20 anos atrás. Com títulos longos e confusões propositais, o controverso se vestiu de guitarras pesadas pra cena, alfinetou o pop e escolheu escrever pecados ao invés de tragédias. 2005 ganhou essa paleta de cores distorcidas que acabaram por pintar um quadro digno de ser roubado no Louvre. Brendon Urie atravessaria as dúvidas dos adolescentes com seu timbre de um milhão de jardas em meio às construções inteligentes de seus companheiros de crime. Tal qual Ringo e suas intervenções precisas, Spencer Smith soube cadenciar com meticulosidade artística o ritmo das 13 canções, tocando pra música. Ryan Ross e Brent Wilson completam a trupe com elegância e contribuem para frases que virariam hinos futuros irreversíveis.
Numa época em que a distração começava a se intensificar, faixas que se chamavam “The Only Difference Between Martyrdom and Suicide is Press Coverage”, “There’s a Good Reason These Tables Are Numbered, You Just Haven’t Thought Of It Yet” e a sensualíssima e fabricante de arrepios “Lying is the Most Fun a Girl Can Have Without Taking Her Clothes Off” por si só, estimulavam o desejo de escutar seus conteúdos. Cada um deles recompensava a propaganda. Panic! trouxe a percepção mais profunda de uma dialética esquecida em alguma gaveta do Bob Dylan, assoprou a poeira nos olhos de quem achava que Thirty Seconds To Mars era tão bom quanto o Coringa interpretado por seu vocalista no futuro e criou uma rodovia própria paralela ao engarrafamento do emo.
Em 2025, com tantas reuniões de bandas que poderiam ser um email, A Fever You Can’t Sweat Out mostra que o Panic! At The Disco faz até o home office adorar o presencial.
Sorte de quem estava no When We Were Young.
Ouça na sua plataforma favorita
Assine nossa Newsletter e receba os textos do nosso site no seu email



